sábado, 19 de maio de 2012

Bolshoi


               Morena das covas e do cabelo bonito, venha pro meu sofá, me faça um cafuné e acenda meu cigarro mentolado que compartilharei contigo. Fale-me demagogias, suposições, onomatopéias, desde que encha meu copo americano com cerveja gelada e um punhado de malícia feminina weberiana.
       Fiz oferenda à Xangô pra ver teu riso ao menos duas vezes ao dia, já ouvi Jobim pensando em ti e já te olhei pelos rabos dos olhos enquanto estavas distraída; prometo que raspo os pelos da cara e passo ir à igreja todo domingo cedo se assim quiseres.
       Sim, confesso, segui os conselhos de Vinícius e perguntei sobre ti ao meu orixá – Só será bom se doer – confirmou o Deus dos trovões. Talvez não doa agora, tampouco semana que vem, mas se um dia após sete barrigas, tu disseres que já não vê brilho em meus olhos, chorarei de desolação e concordarei com o poeta.
       Hoje apenas envergo-me em timidez, perto de sua particular idiossincrasia perco a malandragem e os trejeitos que adquiri em anos de botequim e conversa fiada, confundo verbos, pronomes, e pretéritos imperfeitos, embanano-me. Talvez por esses olhos grandes que agradavelmente me violentam, ou quem sabe pelo meu modesto linguajar interiorano.
       Só quero vibrar junto de ti mais um gol do alvi-negro – como aquele do Basílio em 77 -  e te levar ao Bolshoi, de primeira classe e tudo.







(Bruno Ottenio)

Um comentário:

  1. Ei sinhô... estava ali vendo uma estrela aparecer, quando um deus Xangô passou e mandou lhe dizer:
    "Do caralho este último samba-em-texto. Mas porque o último?"
    Saravá

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