domingo, 18 de setembro de 2011

És bonança

             Baboseira




            Pinte as unhas dos pés pois sabes que neles tenho fetiche, mas não penteie os cabelos, deixe-os assim, adoro esse desgrenhamento.
            Hoje saio às quatro do trabalho, passarei no mercado e comprarei uma garrafa de vinho tinto, e um maço de cigarros para nós dois, voltei a fumar. De proveito, dou um pulo na locadora e pego aquele filme ridículo que você está com palpite, nem sequer lembro o nome.
            Faça aquele macarrão ao pesto que tu sempre acertastes a mão; coloque dois pratos sobre a mesa e me espere ouvindo jazz, Miles Davis por favor,  não precisa de luz de velas, deixe de frescuras, já temos energia elétrica e assim consigo vê-la melhor entre uma garfada e outra.
            Jogue um colchão no chão da sala, e estenda aquele lençol de sede italiana que você ganhou de natal da sua tia-avó, bote o filme clichê, e prometo que tentarei prestar atenção; pouco me importa o final, só quero dormir com a mão em teu seio nu, e o braço enrolado em seu corpo suado.
            Pela manhã, só desejo sentir seu hálito adoravelmente quente e malcheiroso me desejando um bom dia como quem acordara pela primeira vez na vida, passe um café fresco e me conte sobre o seu dia anterior, porém faça-me o favor de não falar em política e inflação, se faltar assunto, não diga que me ama, nem tampouco que me adora, apenas abra seu sorriso branco, e diga como é bom estar comigo, ficarei tímido, corarei, mas depois de cinco minutos inteiros, direi o mesmo sem demagogia.

(Bruno Ottenio)