sábado, 29 de janeiro de 2011

Sal

Idéia


Essa imensidão não me trouxe alegria

Não fiquei simpático, nem assisti o lendário pôr-do-sol
O sal me salgou, literalmente
Tranquei-me em mim mesmo, e fiz algo que não fazia à tempos, chorei

Pensei em correr, correr pra longe, durante dias
Mais não tive coragem, estava longe demais
A minha singularidade se tornou evidente em meio ao plural
Plural de pessoas dispersas, felizes, importantes

Os minutos se tornaram horas, as horas dias
E assim sucessivamente, fui me consumindo, sozinho
Tentei fingir sorrisos olhando pro infinito
Sorrir pra quem ?

Dizem que a primeira vez a gente nunca esquece
Não dá, não tem jeito
É como um filme que se assiste várias vezes
Eu decorei as falas, os momentos, os sentimentos


(Bruno Ottenio)



(Esse é um poema de ficção, sem métrica e sem rimas)



segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Diário de um Neurótico


Pseudo-crônica





Estão tramando algo contra mim, hoje cedo no caminho para o trabalho, notei  que havia um sujeito me seguindo , um homem negro e alto, engravatado, terno engomado preto, e um simpático chapéu panamá, apertei o passo para tentar despistá-lo mais quando me dei por conta, o infeliz já estava me perguntando as horas, logo percebi que se tratava de um agente  secreto da Receita Federal fazendo uma investigação sobre as irregularidades nas minhas declarações.
Chego ao trabalho e dou de cara com a Elaine, a recepcionista , uma moça  magrela e muito pálida, os cabelos são tão louros que até arde os olhos, com os dentes rebocados de batom vermelho, olha pra mim, sorri, e me deseja um sínico “Bom Dia”. Bom dia uma ova maldita jararaca, há tempos que vem querendo roubar o meu cargo na divisão de vendas, à mim ela não engana.
Há algum tempo decidi parar de almoçar no restaurante da empresa, tenho pra mim que o Durval, o cozinheiro, está tentando me envenenar de qualquer maneira. Desde então, trago marmita de casa, porém eu mesmo a faço, desconfio que minha mulher compartilhe do mesmo desejo de Durval, a bruáca quer me matar de qualquer jeito, só pra receber a minha pensão, e realizar a sua tão sonhada viajem pra Juazeiro do Norte.
Na volta pra casa, o cobrador do ônibus sorriu e acenou com a cabeça no exato momento em que cruzei a roleta, esse abusado só pode estar de brincadeira comigo, ele deve saber de algo a meu respeito, ou meu cabelo deve estar com cocô de passarinho, ou tem alface entre os meus dentes, ou esse displicente deve estar me achando com cara de palhaço, ou de ator do zorra total, por muito pouco não mando o infeliz dar risada pra puta que o paril.
Tomei uma atitude sensata esses dias, comprei uma arma, isso mesmo um revólver, um trinta e oito, um chorão, um buldoguinho...Enfim, agora me sinto mais seguro nas peladas de sábado à tarde, prefiro assim pra evitar maus entendidos, principalmente com o Jurandir, aquele safado do departamento pessoal, se faz de simpático, de bonzinho, de esportista, mais está louco pra quebrar minha perna, faz tempo que flagro a maldade e a sujeira em seu olhar, e ainda tem a cara-de-pau de me convidar pro churrasco de domingo na casa dele, desaforado !
Fui fazer alguns exames de rotina e o Dr. Moreira me pergunto se eu tomava bebidas alcoólicas com freqüência, me senti redondamente ofendido, esse sabichão deve estar me achando com cara de cachaceiro, de alcoólatra, de bebum. Doutorzinho arrogante, só porque tem um diploma embaixo do braço, acha que pode me julgar dessa maneira, se eu bebo ou não é problema meu, canalha.
Deixem-me em paz seus crápulas, parem de me perseguir, de me atormentar, de me confundir. Não os levo em consideração, e deixem que o meu caixão, carrego eu..



(Essa é uma história de ficção, baseada em fatos irreais ) (ou não)

 (Bruno Ottenio)

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Valei-me



Baboseira





Veja essa criança de roupas sujas
Carrega consigo um avalanche de sentimentos, de pré-noções, de malícias
Corre nas ruas feito uma locomotiva sem freios, ultrapassando as limitações do tempo e da física
Sorri como se fosse puro, santo
Santo anjo do senhor, meu zeloso guardador

Reza sem bíblia, sem terço, sem medo
Medo de Deus nunca teve, só medo do "coisa ruim", valei-me minha Nossa Senhora ! vá de reto
Diz que vai na missa só pra comer pãozinho, odeia o coitado do vigário, criou aversão
Aversão de endinheirados, moleque danado de invejoso

Ontem me disse que teria seu primeiro dia de labuta
Sonha em ficar endinheirado, moleque danado de controverso
Nunca vi ordinário trabalhar, tanto é que não durou muito
Agora está pra cima e pra baixo de novo

Está virando rapazote, hora fala grosso, hora fala fino, hora fala grosso, hora fala fino
Mais o sorriso é sempre o mesmo, cheio de sentimentos, pré-noções, malícias
Diz que vai estudar no próximo semestre
Moleque danado de mentiroso

Vai ficar por aí na vida, sentindo o vento soprar-lhe as orelhas
Ainda correndo nas ruas, agora  montado à cavalo
Cavalo de metal, de depressão, desânimo
Perdeu o sorriso e o medo do "coisa ruim"
Agora só tem medo de virar gente grande

Valei-me minha Nossa Senhora ! vá de reto


( Esse é um poema de ficção, com várias palavras, e muitas letras )


(Bruno Ottenio)