sábado, 18 de junho de 2011

[...] Pós-moderno

Pseudo-crônica


“La Fête”, esse é o nome da mais nova boate que inaugurou aqui pros lados do São João. Cabelo milimetricamente penteado, barba precisamente bem feita, um tapa na escovação pra tirar o “bafo”, e uma gotícula poderosa do Paco Rabanne que comprei na vinte cinco; prontíssimo pra cair na farra.
Por falta de companhia, decidi conhecer o cafofo sozinho mesmo. Na entrada havia um tumulto desgraçado causado por uns sabichões pré-adolescentes que armaram o maior barraco por conta da faixa etária – Você sabe por um acaso quem é o meu pai?! –  o segurança apenas sacudia a cabeça dizendo que não. Um rapazote magricela e bem vestido chegou em mim e disse meio ressabiado – Eae Brother, estou com uns comprimidos legais aqui, pra tirar o sono, saca ? – Saco, peguei logo dois, estava exausto.
Lugarzinho aconchegante, parecia aqueles botecos americanos que se vê nos filmes do Tarantino, gente bonita, boa decoração e o melhor do “Drumembeis”; juntei-me ao balcão e junto com um assovio inconsciente, gritei pro homem do bar:

- Amigo, cowboy !
- Ta na mão chefe – prontificou-se deslizando o copo de uísque pelo balcão.
- Amigo ! (assovio)
- Amigo ! (assovio)
- Amigo ! (assovio)

Fiquei mais tranqüilo, relaxei, resolvi dançar, dancei, dancei, dancei, cansei, tomei um comprimido, e dancei, dancei, dancei. Vi lá longe um sujeito me encarando de um jeito meio estranho, quando levantou-se e veio caminhando em minha direção, pode vê-lo melhor; sujeito bonito, cabelos pretos arrepiados e bem aparados, barba por fazer, pinta de jogador de beisebol, e um elegantíssimo terno Ralph Lauren.
- Você é bi ? – Perguntou o homenzarrão se encostando perto do meu ouvido, não entendi a pergunta e quis parecer simpático.
- Sou Corinthians, desde moleque, daqueles roxos, podem falar o que quiserem mais aquele ataque de oitenta e dois sem dúvidas foi o melhor, Casagrande, Sócrates e Ataliba, que time !
- Você beija homens? – Dessa vez o cidadão foi mais especifico.
 - Sim claro, meu filho, meu pai, meus tios, meu avô...
- Olha aqui Brother, quero saber se você gosta de beijar homens na boca – O bonitão estava irritado dessa vez.
- Aaaaaaa, entendi (tentei, mas não consegui disfarçar a risadinha sem graça) mas não, não beijo não, tenho o maior respeito pelos irmãos, mas não.
O grandalhão se sacudiu, esbravejou algo, bateu o pé, e voltou me maldizendo à caminho do mesmo lugar onde estava sentado, não entendi muito bem a intenção do malandro, mas relevei a sua crise histérica momentânea.
Esses comprimidos realmente fazem efeito, comecei sentir umas coisas estranhas, enxergar formas abstratas, luzes bilaterais, vértices difundidos, resolvi ir embora, estava tarde.    
Antes de cruzar a porta, acendi um cigarro, e fitei o salão sem nenhum motivo especial, só pra ver o rosto das pessoas; elas estavam felizes, anestesiadas, saindo de si, aflorando-se num mundo despudorado; sorri sozinho, também sem motivos. Antes do derradeiro trago, vi no fundo do salão, duas mulheres de “mimimi”, fiquei na tara de que elas estariam se beijando, por um segundo pensei em continuar na festa e tentar realizar a minha mais sórdida fantasia sexual, mas supus que elas só estariam conversando. Traguei, cocei os olhos, e parti.


(Bruno Ottenio)



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