Pseudo-crônica
Depois de uma semana exaustiva ministrando aulas nas turmas de ensino médio, finalmente chegou a tão esperada sexta-feira à tarde. Saí do colégio com um palpite famigerado de tomar cerveja com porção de queijo parmesão; passei no supermercado no caminho de casa e sem hesitar depositei uma caixa de cervejas no carrinho de compras; saí cruzando os corredores em busca do queijo – “Queijo Parmesão Temperado” – era isso que dizia a embalagem, resolvi experimentar; ao lado da prateleira de queijos, havia a sugestão de alguns vinhos, lembrei da patroa, ela adora vinho, apanhei uma garrafa – “Tinto suave de mesa” – parecia ser bom.
Me casei à pouco tempo, sempre me esqueço a data mas faz uns quatro anos mais ou menos, ainda não temos filhos, não por falta de tentativas, deve ter algo errado com a gente.
Chego em casa atrapalhado com a sacola e dou de cara com a Patroa sentada rente à mesa com cara de amuada, resmungava algo em baixo tom, como se conversasse com um amigo imaginário. Dando-se por conta da minha presença, ergueu os olhos e me deu um sorriso triste seguido de um beijo rápido.
Lamuriou-se então fervorosamente, estava com problemas no trabalho, datas estipuladas, pressão do chefe, e um milhão de planilhas pra preencher. Como não entendo bulhufas de setores administrativos, pude apenas ouvir, e arriscar a dizer que tudo iria dar certo.
- Não sei pra que uma caixa de cerveja ! - Reclamou enquanto eu desensacava a cerveja, o queijo e o vinho, fingi que não ouvi.
- Adoro esse vinho ! – Contentou-se agora já abrindo a garrafa.
Enquanto cortava o parmesão em cubos, conversávamos sobre várias coisas; sobre o feriado na praia, sobre o stress das aulas, sobre o governo Dilma, sobre como o cabelo da Kátia havia ficado engraçado, até sobre o novo carro zero-quilômetro que o vizinho comprou, carro ridículo.
Apanhei uma cerveja e me esparramei no sofá, me atrapalhei um pouco com o controle remoto, os meus momentos na sala eram raríssimos. Logo atrás já veio a Patroa, também segurando uma lata de cerveja.
- Não sei pra que uma caixa de cerveja ! – Tornou a esbravejar um pouco mais dócil dessa vez.
Deitou a meu lado no sofá apertado, e abraçou-me como se temesse um dia me perder. Continuamos conversando por muito tempo, vez ou outra prestávamos atenção no filme sem graça que passava na TV. Já com o riso mole, me abraçava ainda mais forte e fazia cachos no meu cabelo.
Percebi que a cerveja havia acabado, a garrafa de vinho estava seca no chão da sala ao lado do prato vazio que à pouco estava o parmesão. Sentíamos-nos mais cúmplices do que nunca, sua pernas entrelaçadas às minhas, se tornavam uma só. Não fizemos amor naquela noite, apenas dormimos abraçados e bêbados; antes de pegar no sono ela abriu um sorriso embriagado, olhou nos meus olhos e disse rendendo-se ás gargalhadas.
- Não sei pra que uma caixa de cerveja – Apertou-me e adormeceu
(Bruno Ottenio)
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