terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A triste e desgraçada história de Vladimir Corrêa

 
Pseudo-crônica


               Há quinze anos, fui no casamento do Vladimir, um amigo de infância que cresceu comigo batendo bafo e jogando futebol de rua lá pelos lados da Vila Helena. Casório com tudo que tinha direito, afinal de contas depois de doze anos de namoro,  Maria Cláudia quis o pacote completo. Na igreja seguiu o protocolo : véu e grinalda, vestido branco e daminha de honra. Na festa foi um requinte: pãozinho com carne moída, batata ao molho, contra-filé assado, tubaína de guaraná e muita, muita cerveja... Coisa de primeira!
                Lembro-me como se fosse hoje, comi batata até passar mal, arrisquei até uns passinhos ao som de "YMCA", e no dia seguinte acordei com uma ressaca terrível. Foi um baita festão como não se vê todo dia.            
                O Vlad logo tratou de comprar uma casinha pros dois, lugarzinho aconchegante, com churrasqueira e sacada, deve custado uma fortuna, mas o Vlad tinha condições, era corretor de seguros a anos, conseguiu fazer seu pé-de-meia.
Dois anos depois compraram o primeiro carro, a inveja boa me consumiu, sempre foi meu sonho ter um opala, e o sacana tirou um zero kilômetro, fiquei feliz por ele. As crianças vieram e Vladimir e Maria Cláudia formaram uma linda família.
                Semana passada encontrei o Vlad no metrô, acabado, barba por fazer, cabisbaixo, olhos marejados, camisa amarrotada, e um insuportável bafo de pinga, quase não o reconheço.

- Vladimir ? é você ?
- Infelizmente - respondeu o coitado quase chorando de vez
- O que houve Vlad ? - Perguntei já esperando o pior
- A Maria Cláudia me abandonou
- Como assim Vlad, te abandonou quando, por quê ?
- A um mês atrás, disse que não me suportava mais, que estava cansada de olhar para a minha cara gorda todos os dias, disse que já não agüentava as minhas manias e costumes, que os últimos quinze anos foram os piores de sua vida, e que iria mudar radicalmente. Soube que agora ela vive com um grupo de hippies sujos, anda por aí cantarolando mantras e vendendo artesanato na praça central.
- Mais que caralho hein ! - Juro que tentei responde algo decente, mais naquele momento foi a única coisa que veio à minha mente
- Pois é amigo, minha vida esta destruída - lamentou o infeliz, agora se derramando em lágrimas.

                Voltei pra casa perplexo, um casamento tão lindo e perfeito quanto o deles, acabar assim, sem mais nem menos, é difícil de acreditar, ainda mais quando acontece uma desgraça dessas com um cara tão dedicado e bom marido quanto o Vladimir. Mais já devia ter desconfiado que algo não estava bem com o Vlad, fazia uns dois meses que ele já não freqüentava mais o Bordel da Lucimara, nem aparecia mais no boteco do Jonas nas madrugadas pra tomarmos cachaça e jogar pôquer, sumiu até do bingo e das corridas de cavalo. Pobre Vladimir, ele não merecia uma facada dessas, vá entender.


(Bruno Ottenio)
( Essa é uma história de ficção, e eu juro que não conheço nenhum Vladimir Corrêa )
           

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