tag:blogger.com,1999:blog-54769999602057825352024-03-04T20:13:48.904-08:00Pseudo-Crônicas, Idéias, e BaboseirasDizem que escrever é um dom. Eu considero um desabafo, um vômito, um cuspeBruno Otteniohttp://www.blogger.com/profile/11331300395259789328noreply@blogger.comBlogger43125tag:blogger.com,1999:blog-5476999960205782535.post-30219035517444406832014-08-18T09:09:00.002-07:002014-08-19T03:16:36.284-07:00Maria<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi80K578YotnapFxN2qJBFKDOj8L_JLLumz2coTq44Q4htv6ZorF38Gy42xA4P-WgnUUBQ5v6fAGv1wOODbAN6UhTXFL_0R5TGj31lYuFa6WPZHxI2OxdjVTPmRPXgXlP6s369qodaqcfhM/s1600/rio-leblon-beach-by-fabiola-bezerra.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi80K578YotnapFxN2qJBFKDOj8L_JLLumz2coTq44Q4htv6ZorF38Gy42xA4P-WgnUUBQ5v6fAGv1wOODbAN6UhTXFL_0R5TGj31lYuFa6WPZHxI2OxdjVTPmRPXgXlP6s369qodaqcfhM/s1600/rio-leblon-beach-by-fabiola-bezerra.jpg" height="209" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"> Maria começou cedo, antes mesmo das sardinhas surgirem
em sua pele sem melanina. Em seus olhos juvenis, a menina enxergava pés de café,
vida feudal e relatos nostálgicos de uma Itália que jamais conheceu.<br /> Quando moça, descobriu o amor em
braços africanos e chorou quando seu pai rejeitou o negro de barba que havia
cativado seu coração. Amou-o indiscriminadamente mesmo sem a benção paterna; e
trinta anos depois, o preto e o branco ainda se misturam nos risos e nas lágrimas
que rodeiam a cama.<br /> Terrível engano pressupor que
Maria esteja sempre feliz. Há anos eu a vejo chorando feito uma viúva. Hora por
não suportar a rotina que as máquinas de costura obrigatoriamente lhe
impuseram; hora pela frustração da nunca ter conhecido o Leblon de Manuel
Carlos; e hora simplesmente por sentir-se só [...] Maria também ri a beça;
possui um vasto repertório em palavrões e se sente angustiada quando a vida
revira seu passado e traz à tona antigas mágoas.<br /> Maria já sonhou com uma casa de
terreno inteiro em algum bairro nobre; já quis ser professora de matemática no
ensino fundamental; e pensou em ser
estilista pra largar tudo e sumir no mundo. Hoje os sonhos de Maria deixaram de
ser pretensiosos. Entre os mais extravagantes estão: Descansar, reformar os
móveis e viver o suficiente pra ver os meninos formados e livres da nicotina. <br /> Há incontáveis anos, Maria puxou
generosamente minha orelha e disse : “A vida não acontece da forma que queremos.
Engole esse choro e vá tomar banho”. Hoje,
penso eu, que Maria é especialista em vida, em sonhos e em tempo. </span><br />
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">"Uma mulher que merece viver e amar como outra qualquer do planeta" </span><br />
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;"><br /></span>
<span style="font-family: Times, Times New Roman, serif;">(Bruno Ottenio)</span></div>
Bruno Otteniohttp://www.blogger.com/profile/11331300395259789328noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5476999960205782535.post-37042980451945300082014-08-01T06:12:00.003-07:002014-08-01T06:14:53.951-07:00Temaki <br />
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsFUCBvx3KY-t2ofz07MQqmePsx9lDX016jvung-CsONI6Rl3TtNl3Sd-RkpTC3K1cXrwo5vfuIL103XyLXSnZdH2yJ6M24FY-b2m75GfelRoG0hVdmNlVGINYmNubkSjDUj2e9o-MLHCs/s1600/13685529351_6e1f7528d6c3009a858dbe82653dbfee.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjsFUCBvx3KY-t2ofz07MQqmePsx9lDX016jvung-CsONI6Rl3TtNl3Sd-RkpTC3K1cXrwo5vfuIL103XyLXSnZdH2yJ6M24FY-b2m75GfelRoG0hVdmNlVGINYmNubkSjDUj2e9o-MLHCs/s1600/13685529351_6e1f7528d6c3009a858dbe82653dbfee.jpg" height="205" width="320" /></a></div>
<br />
Agora posso comer temaki duas vezes por semana, mas peixe cru me causa ojeriza. Posso fumar dentro de casa, mas o cheiro de fumaça e lustra-móveis só faz aumentar minha enxaqueca. Tenho tempo pra assistir centenas de filmes, mas continuo dormindo antes do fim. Consigo ser pontual e chegar antes do professor, mas a morte da bezerra é sempre mais interessante que os troncos lingüísticos das tribos da Polinésia.<br />
<br />
Me falta olfato para o saudosismo, poucos cheiros me convencem, e amanhã, desejarei coisas que esquecerei novamente nas próximas semanas. Contentar-me? Só quando o ponteiro parar no onze.<br />
<br />
(Bruno Ottenio)Bruno Otteniohttp://www.blogger.com/profile/11331300395259789328noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5476999960205782535.post-44587693089483723802014-05-20T07:30:00.001-07:002014-05-20T08:48:10.635-07:00Ideologia. Benício quer uma pra viver<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Benício
andava meio revoltoso pelos corredores da faculdade. “Golpe!”; “Companheiro” e “Pequeno-burgueses”
eram as palavras que ele mais gostava de falar. Talvez pela tonalidade fonética
que as palavras emitiam - COM PAN HEI RO
– Bonito, não? Ou talvez tenha as lido em algum manifesto secundarista que reivindicava
a redução do preço da coxinha vendida pela Tia Vilma na cantina escolar –
COMPANHEIROS, o preço desse salgado é um GOLPE! Tia Vilma pensa que somos
PEQUENO-BURGUESES; isso tem que acabar!<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Dedicava-se
integralmente à defesa de sua <i>“organização”</i>
política – PSAA (Partido Socialista Anti - Acadêmicos) – e armava os maiores quiprocós
se algum pseudo-intelectual – assim Benício os chamava – questionasse as
legitimidades de seu grupinho político. Deu um tremendo piti quando a Juliana
da pedagogia lhe questionou sobre as verbas desviadas pelo PSAA e quase cobriu
o Juninho da biblioteconomia de sopapos quando o rapaz confessou que havia lido
Mikhail Bakunin. Sem mencionar as inúmeras brigas e alfinetadas ideológicas via
facebook; Benício adorava a tecnologia e a possibilidade de evitar o tête-à-tête.
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Mas
nem tudo era tormenta da vida do grandalhão mal humorado. Benício sorria às
vezes. Principalmente quando cortejava futuros militantes potencialmente
revoltosos como ele. Cervejinha no boteco, conversinhas no pé d’ouvido, promessas
de cargos importantes na gestão do centro acadêmico [...] Essas e outras tantas
artimanhas eram utilizadas como cooptação eleitoreira de jovens órfãos de
ideologias. O fortalecimento quantitativo do PSAA nunca ocorreu de fato, mas
Benício sempre se empenhou na incansável busca por votos. Num passado recente,
até pro meu lado o moção andou se engraçando pelos corredores da faculdade, mas
me chamou de reacionário quando faltei a assembleia do CA para fazer a prova de
antropologia - Antropólogo de gabinete – esbravejou contra mim. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Em
relação as provas, Benício não as fazia, até porque, na concepção do rapaz, ser
universitário e estudar é uma tremenda contradição. O foco, de fato, é montar
uma chapa com os COMPANHEIROS, ganhar as eleições contra os PEQUENO-BURGUESES
academicistas e evitar os possíveis GOLPES que a ~democracia~ venha à sofrer.
Revolucionário esse tal Benício, hein! <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;"><br />(Bruno
Ottenio)</span><span style="font-family: Arial, sans-serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
Bruno Otteniohttp://www.blogger.com/profile/11331300395259789328noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5476999960205782535.post-58993530892921144842013-11-08T04:09:00.002-08:002013-11-08T04:14:36.684-08:00Mazel Tov<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="background-color: #990000; color: white;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><br /></span></span>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsIE3twWLagVR979RpS19ij-g8ALmRXl8V7bmxRheCl2c1PeiuZt5WRT-S9jhP6nGP2XyP9PiUX3W6H04HFCReVHn5ymXjLzXqrYIGozt04URQpr_k7qxwwyTkUCTPyz3-ktiMIOWQdCX3/s1600/Bruno_0971.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhsIE3twWLagVR979RpS19ij-g8ALmRXl8V7bmxRheCl2c1PeiuZt5WRT-S9jhP6nGP2XyP9PiUX3W6H04HFCReVHn5ymXjLzXqrYIGozt04URQpr_k7qxwwyTkUCTPyz3-ktiMIOWQdCX3/s320/Bruno_0971.jpg" width="320" /></a></div>
<span style="background-color: #990000; color: white;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"><br /></span></span><span style="background-color: #660000; color: white;"><span style="font-family: "Arial","sans-serif";"> Meu
</span><span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Bar Mitzvá também foi aos treze.
Não foi na mesquita, não usei quipá, não me levantaram na cadeira, na verdade,
nem sou judeu.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: #660000; color: white; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;"> </span><br />
<span style="background-color: #660000; color: white; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;"> Lembro que o sol queimava forte na
esquina da rua Luiz Carlos Prestes com a Tancredo Neves. De pés descalços e
rosto suado, sentei em cima da bola de capotão naquele pequeno intervalo antes
de voltar à pelada. Rubinho sacou um baseado do bolso e o acendeu com fósforo
“Fiat lux”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: #660000;"><span style="color: white; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<span style="color: white; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">- Maricas –
Resmugou Rubens quando recusei o beck.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="background-color: #660000;"><span style="color: white; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<span style="color: white; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Wilian, o dono da bola, esbravejou comigo: <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: #660000;"><span style="color: white; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<span style="color: white; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">- A bola vai
ficar oval, filho da puta!<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: #660000; color: white; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;"> </span><br />
<span style="background-color: #660000;"><span style="color: white; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="font-family: Arial, sans-serif;"> </span></span><span style="color: white; font-family: Arial, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"> Sempesco sacaneou Elías:</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: #660000;"><span style="color: white; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<span style="color: white; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">- Ei Viadinho,
fala pra sua irmã que estou com saudades dela. Já bati várias praquela gostosa.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: #660000; color: white; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;"> </span><br />
<span style="background-color: #660000; color: white; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;"> Antes do brown chegar ao fim, vi Jonas
descendo a ladeira feito um tanque de guerra com os olhos cheios de lágrimas.
Gritava e gesticulava algo que não conseguíamos entender. Foi chegando,
chegando, chegando, e tudo ficou claro:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: #660000;"><span style="color: white; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><br /></span>
<span style="color: white; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;">- Filhos da
puta! Filhos da puta! Mataram o Rick! Mataram o Rick!<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: #660000; color: white; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;"> </span><br />
<span style="background-color: #660000; color: white; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;"> Mataram o Rick. Quem matou ninguém
sabe até hoje. Talvez os gambé, talvez cobrança; mas o Rick estava morto. Não
jogamos mais bola naquele dia.<o:p></o:p></span></div>
<span style="background-color: #660000;"><span style="color: white;"><br /></span>
</span><br />
<div class="MsoNormal">
<span style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="background-color: #660000; color: white;"> Ali, virei adulto.</span><span style="background-color: white;"><o:p></o:p></span></span></div>
Bruno Otteniohttp://www.blogger.com/profile/11331300395259789328noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5476999960205782535.post-14682670515218596252013-09-22T13:59:00.001-07:002013-09-22T14:01:52.664-07:00Os Senhores de Engenho do Século XXI - O "sofrimento" dos homens brancos.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGTwZAG-ij5FB0d4vb01TM4R_J46EmEf0jUmOX-6TP_rsWIQE_rAaBwAWtF5DPJ-iumjoY_FmHNxvmjp_WXDCrPIKmdpX9bRksJ_gJDALTIv8-wLOf8o5IVhG8jmlhpX6mA5bNwhMVWgBZ/s1600/money.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGTwZAG-ij5FB0d4vb01TM4R_J46EmEf0jUmOX-6TP_rsWIQE_rAaBwAWtF5DPJ-iumjoY_FmHNxvmjp_WXDCrPIKmdpX9bRksJ_gJDALTIv8-wLOf8o5IVhG8jmlhpX6mA5bNwhMVWgBZ/s320/money.JPG" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Hoje vou falar de homem...De homem não, de macho. Isso
mesmo, machão, daqueles que coçam o saco e não cruzam as pernas em nenhuma
hipótese. Mas não falarei de machos em geral, e sim de um grupo em especial que
sofre as terríveis opressões diárias proporcionadas pela pós-modernidade:
Machos, brancos, heterossexuais e ricos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Há poucos dias, em uma “palestra” do não menos “sofrido”
Luiz Felipe Pondé, escuto nas caixas de som um rapaz que lamentava-se no
microfone cedido aos expectadores ao fim da descabida fala do Sr. Pondé. Depois
de quarenta e cinco minutos vomitando besteiras e sendo constantemente
hostilizado com cartazes e vaias vindas de um grupo de feministas; haja
visto que o Sr. Pondé detesta feminismo, feministas e minorias, ao ponto de
publicar por diversas vezes em sua coluna semanal na Folha de São Paulo ofensas
sem rodeios contra as moçoilas militantes as quais ele chama de “Nem tão
mulheres assim”. Voltemos ao rapaz convalescido ao microfone. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Com voz trêmula e emocionada, o jovem sarado, de camiseta
pólo e bochechas rosadas agradeceu imensamente a presença do palestrante Pondé,
e expressou seu indignado repúdio contras a mulheres ali presentes que
hostilizavam o palestrante, se é que podemos chamá-lo assim. “Vocês são todas
fascistas e antidemocráticas, ninguém é obrigado a concordar com vocês, é preciso
respeitar todas as opiniões diferentes”. Não lembro com exatidão as palavras de
lamúrias proferidas pelo rapaz, mas foi basicamente isso.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Confesso que me comovi à priori com o tom de desolação.
Pobre rapaz, vítima e testemunha ocular do “fascismo feminista”. Afinal, nessa
sociedade desigual e doentia, todos de alguma forma tornam-se vítimas, certo?
Refleti momentaneamente. Deve ser realmente MUITO difícil viver em uma
sociedade que discrimina estes senhores tão oprimidos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Nunca colocaram os pés na quebrada, nem mesmo para comprar
a indispensável droga pré-balada (Esses fazem uso do serviço Express); Jamais
receberam tapas na cara da truculenta polícia simplesmente por parecerem suspeitos;
Nem nos pesadelos mais terríveis, foram proibidos de entrar naquela loja de
grife por estarem mal vestidos; Só utilizam o transporte público quando vão
passar as férias na Europa; Aquela camiseta de marca nunca lhes pareceu cara
demais; Jamais foram alvos de violência gratuita física e verbal [...] Mas
ainda sim, esse grupo secular sofre com o “fascismo” da minorias. Quando digo
minorias, não digo numericamente, mas minorias em direitos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Logo, entendemos como minorias (em direitos); Mulheres,
negros, homossexuais, pobres, entre outros grupos que, segundo os nossos machos
sofredores, não passam de ditadores que impõe diariamente um padrão ao qual os
varões citados acima jamais conseguirão se enquadrar. Sofrem, choram, e
sentem-se oprimidos simplesmente por serem brancos, héteros, homens, ricos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Sofrimento de verdade, pra mim (pobre e preto), é quando os
“sofridos homens brancos” invertem os papéis. Opressor vira oprimido, e
oprimido vira fascista. Zumbi dos Palmares foi fascista, Pagu foi fascista, Malcolm
X foi fascista, Lampião foi fascista, Harvey Milk foi fascista</span>.<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> Sendo
assim, sejamos todos fascistas contra esses Senhores de Engenho do Século XXI. <o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "Arial","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"> <br /><br />(Bruno Ottenio)<o:p></o:p></span></div>
Bruno Otteniohttp://www.blogger.com/profile/11331300395259789328noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5476999960205782535.post-66392894790300808522013-07-29T14:20:00.000-07:002013-07-29T14:49:25.317-07:00Didelphis axilóide aguda - O fedor de Isaias.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjR1CNOxsy_3JsEQ0tnor47ruT2MbWeOGcIjXIfyA8q-N-JTaO_BCmztDM4E7MXL1CGiwshTNK0GHhFAzta8YAgHiC7uuAPT4KZRuPBGwYL1dDm4OhQS3Brq9sr2En-WWXjXrvyQK0F6Thd/s1600/como-acabar-com-o-mau-cheiro-nas-axilas.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="235" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjR1CNOxsy_3JsEQ0tnor47ruT2MbWeOGcIjXIfyA8q-N-JTaO_BCmztDM4E7MXL1CGiwshTNK0GHhFAzta8YAgHiC7uuAPT4KZRuPBGwYL1dDm4OhQS3Brq9sr2En-WWXjXrvyQK0F6Thd/s320/como-acabar-com-o-mau-cheiro-nas-axilas.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: inherit;">Logo quando nasceu, Isaias foi
diagnosticado como uma doença rara chamada “<span class="st">Didelphis axilóide
aguda”. A doença inusitada era manifestada de acordo com as variações
emocionais do garoto. Quando sentia-se feliz e empolgado com alguma situação
corriqueira, seu córtex cerebral liberava endorfinas que simultaneamente lhe
causavam um insuportável mau-cheiro nas axilas. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span class="st"><span style="font-family: inherit;">No começo, quando
recebia o suculento peito da mãe após os histéricos gritos de fome, o bebê
fechava os olhos com cara de satisfeito e exalava o insuportável fedor que
desconcertava Dona Edith, a mãe. Não suportava sequer cinco minutos com a
criança em teu seio. Edith revirou o país a procura de algum médico que curasse
o “defeito” do menino, mas todos lhe davam o mesmo prognóstico: Não há cura,
tampouco tratamento. E assim, por falta de opções, Isaias foi crescendo e
fedendo absurdamente sempre que sua boca abria um mísero sorriso de felicidade.
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span class="st"><span style="font-family: inherit;">Quando entrou na
pré-escola, conheceu os cruéis apelidos atribuídos pelos coleguinhas de sala:
Subaqueira, Gambazento, Fedô, entre outros tantos. Lanchava sempre sozinho pra
evitar as piadócas e quando fazia gols nas aulas de Educação Física ninguém o
abraçava nas comemorações. Todavia, quando ia mal nas provas, triste e livre do
mau cheiro, todos se aproximavam para debochar mais uma vez do pobre Isaias. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span class="st"><span style="font-family: inherit;">O calvário maior
do rapaz ainda estava por vir. Na adolescência, completamente retraído e
traumatizado com os anos de catinga, sempre evitava as festinhas da galera.
Ficou surpreso quando recebeu o convite do aniversário de 15 anos da Lurdinha,
decidiu que iria e que daria um jeito de conter sua euforia; pobre coitado, bebeu
demais e intoxicou a festa da moça com tanto mau-cheiro. As apaixonites da
adolescência chegaram e junto delas o insuportável fedor de Isaias, por conta
disso, o desgraçado jamais teve uma namorada. Seus tios não suportaram ficar na
sala junto de Isaias quando o Vasco ganhou o campeonato brasileiro. E assim o
rapaz foi vivendo, fedendo sempre que sentia-se bem, conseqüentemente,
espantando todos a sua volta. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span class="st"><span style="font-family: inherit;">Os momentos de mau
cheiro ficaram escassos ao longo do tempo. Cresceu, arrumou um emprego,
formou-se em Engenharia Civil, comprou um apartamento, no entanto jamais
livrou-se de sua doença. Perfumes e loções pós-barba eram inúteis nos momentos
que o rapaz desatinava a feder. Logo, se viu sozinho, vítima de sua própria
felicidade.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span class="st"><span style="font-family: inherit;">Isaias morreu
cedo, quarenta e poucos anos, talvez de tristeza, talvez de ataque cardíaco,
fumava demais disseram os médicos. Foi encontrado só em seu apartamento livre de qualquer mau cheiro. Em seu túmulo havia os seguintes dizeres: “Aqui
jaz Isaias, fedeu demais porque tentou sorrir”.</span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
<span class="st"><span style="font-family: inherit;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
(Bruno Ottenio)</div>
Bruno Otteniohttp://www.blogger.com/profile/11331300395259789328noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5476999960205782535.post-17396871468967759502013-07-18T13:58:00.000-07:002014-07-17T05:43:36.330-07:00Fritas ou nuggets?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYV-lfoCo0j5Y-U54IN2JUHFQUPHTbwzTu4CdN2t4H2oQd0SHhfczSPf5LJpoA2M7yILWrF6X1KS5LYphnrPUkKH4jxLxp933bE37dxedfUJ6w4NcTYuotD6fARfxJJ8VTa1WW5D_OSnEz/s1600/Fritas+ou.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgYV-lfoCo0j5Y-U54IN2JUHFQUPHTbwzTu4CdN2t4H2oQd0SHhfczSPf5LJpoA2M7yILWrF6X1KS5LYphnrPUkKH4jxLxp933bE37dxedfUJ6w4NcTYuotD6fARfxJJ8VTa1WW5D_OSnEz/s320/Fritas+ou.jpg" height="211" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: large;"> Quem me
dera ser bem decidido em qual ônibus subir ou qual cigarro fumar. E lá estava
eu, na fila do fast-food que evidentemente escolhi errado no desespero da fome. A atendente ruiva de aparelho nos dentes perguntou-me de forma invasiva –
Fritas ou nuggets? – como se fosse simples optar entre as múltiplas possibilidades.
Olhei apreensivo para os lados e por uma fração de segundo me afeiçoei às
batatas, logo em seguida, minha boca encheu-se d’água em imaginar sabor do
frango; era uma decisão difícil. E ali, sendo encarado pelos olhos grandes da
moçoila ruiva, divaguei em conflitos proporcionalmente intensos às guerras
mundiais. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: large;"> Social
democracia ou anarquismo radical? Miles Davis ou talvez John Coltrane? Shakespeare
Apaixonado ou quem sabe O Último Tango em Paris? Deveria ter citado Foucault nas
aulas de sociologia e não Deleuze; talvez ter ido a Moçambique em vez de
Angola; queijo a goiabada; geral a numerada; contra-baixo a guitarra; cd’s a vinis – Moço?</span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: large;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: large;">- Fritas, por favor! </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: large;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: inherit; font-size: large;">(Bruno Ottenio)</span></div>
<br />
<br />Bruno Otteniohttp://www.blogger.com/profile/11331300395259789328noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5476999960205782535.post-19573293524592899382013-04-06T14:07:00.005-07:002013-04-06T14:07:57.128-07:00Refluxos lado B<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
Ainda moro na mesma casa de
anteontem, venha me visitar um dia desses, prometo tentar ser o mesmo de
outrora, quando éramos crianças.<br />
<span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Já não calço mais trinta e
cinco, e as cobertas ficaram curtas, meus pés quase escapolem-se nos dias de
frio; agora peguei a estranha mania de estralar os dedos, um por um, inclusive
os dos pés que transpassam o cobertor.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
Meu cabelo cresceu um pouco, e
agora preciso raspar o bigode duas vezes por semana; melhorei um pouco no
violão e comprei alguns livros e discos, Roberto e Jorge ainda são meus
preferidos, mas estou à escutar até o filho do historiador hora ou outra.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
Ainda bebo cerveja na esquina,
como porcarias, e falo palavrão à beça como você bem se lembra: “Puta que o
paril”, “Cacete”, “Porra”, e alguns outros nesse mesmo nível, mamãe já nem se
importa mais, antes mandava lavar a boca com sabão de coco e água raz, agora só
balança a cabeça como se pensasse: “Onde foi que eu errei?”.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
Conheci muita gente nesse vai e
vem, bati muito papo mal batido, e várias prosas quase prosopopéias; tem
crioulo que sumiu no mundão imerso nas figuras de linguagens, deixei de ver mais
gordo, outros bravos companheiros correm próximos, já dei carona pra alguns na
minha gringa poliglota.</div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
Agora tomei tento meu chapa,
comecei a estudar pra compreender melhor esse mundaréu, e descobri que isso é
impossível, nego fala: “Tá errado”, mas continua errando. Lembrei-me de quando
éramos crianças, e não sabíamos o que era certo e o que era errado, os sorrisos
eram mais sinceros quando estávamos igualmente sujos. Ainda sorrio ás vezes,
mas não com tanta freqüência quanto antigamente, muita coisa perdeu a graça,
deixei de rir da desgraça. </div>
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
O relógio agora passa bem mais rápido,
mas os discos ainda continuam a girar na mesma velocidade.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Hoje cedo a vitrola me fez lembrar de ti,
venha me visitar um dia desses, prometo ser o mesmo de outrora,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>também prometo colocar aquele disco que a
gente tanto gostava de ouvir enquanto tomávamos vinho do porto, porém devo
avisar , ele já não diz a mesma coisa. <br /><br />(Bruno Ottenio)</div>
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<![endif]--><br />Bruno Otteniohttp://www.blogger.com/profile/11331300395259789328noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5476999960205782535.post-81503087384925679102012-11-01T05:36:00.000-07:002012-11-01T05:36:02.822-07:00Pai de Santo e Professor - A história de Elías Gouveia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggdvVbjNhoeTGs6w6QNbGIaiEMJ2eR1MW0FRTJojUPhl97oTISuwXmIlLB8UtfWqNTWk2Q9dFZUKP6aDSl0ll0_56yp13tMXk3cv866_C3lQV-Zcl8_UUH8uB2XFbk2DlFBoRgnrWLG308/s1600/PROFESSOR.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="265" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEggdvVbjNhoeTGs6w6QNbGIaiEMJ2eR1MW0FRTJojUPhl97oTISuwXmIlLB8UtfWqNTWk2Q9dFZUKP6aDSl0ll0_56yp13tMXk3cv866_C3lQV-Zcl8_UUH8uB2XFbk2DlFBoRgnrWLG308/s320/PROFESSOR.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-indent: 35.4pt;">
Elías, esse é o nome do meu
ex-professor, ou pelo menos era, nunca mais o vi mais gordo, provavelmente já
tenha batido as botas, já era velho e fumava uma carteira de Malboro por dia,
do vermelho, ás vezes tirava o filtro para potencializar aquela gostosa
sensação de queda de pressão.</div>
<div class="MsoNormal">
Calças
de cós alto, camisa social por dentro, careca lustrada, e barriga saliente;
Elías além de professor era vidente, desconfiava eu que fosse até pai-de-santo,
eu morria de medo dessas coisas de Exu e Pomba-gira. Imaginei milhares de vezes
o cartaz afixado em algum poste – Pai Elías de Ogum, trabalhos, amarrações,
tarô e búzios – e a fuça do infeliz sorrindo com os aqueles dentes amarelados.
Tinha mania de prever o futuro da molecada – Você vai ser engenheiro, você vai
ser bandido, e você vai morrer antes dos 25 – E a matemática a gente aprendia
se sobrasse tempo entre uma previsão e outra.</div>
<div class="MsoNormal">
Teorema
de Pitágoras eu nem sabia o que era, Tales, acredito que tenha sido algum
artilheiro alemão da copa de 90, e me dei muito mal no concurso da prefeitura
para auxiliar administrativo por não saber o valor do delta. Porém sabia de
tudo e mais um pouco sobre o futuro dos camaradas de sala; sempre soube que a
Claudinha ia ficar grávida de gêmeos fruto daquele namorico com o Fernando, que
o Paulo Henrique ia perder a mãe vítima de um atropelamento de caminhão, e que
o Gordo ia ganhar 15 mil reais no concurso 148 da quina; tudo detalhadamente
previsto dentro da sala de aula.</div>
<div class="MsoNormal">
E o
sacana incrivelmente acertava tudo; o Rogérinho, vítima de uma desinteligência,
ficou três anos atrás das grades, Bernardo que só tirava dez em português, foi
internado compulsoriamente pela mãe em uma clínica de reabilitação para narcóticos,
e a Laís se formou com louvor em arquitetura na Universidade Federal do Rio de
Janeiro, ouvi falar que está no mestrado agora.</div>
<div class="MsoNormal">
Durante
muito tempo, me arrepiava os fios de cabelo só de pensar em cada premonição
acertada, supus até um pacto sombrio entre o professor e o tinhoso Belzebu, mas
depois percebi que o professor Elías não passava de um charlatão. Em meados de
1998, o pilantra me chamou de canto, botou a mão sobre os meus cabelos
embaraçados, fechou os olhos, e disse que um dia eu me tornaria médico
ortopedista, e que seria plenamente feliz depois de vinte e três primaveras. </div>
<div class="MsoNormal">
E nessa
brincadeira de bola de cristal, Elías acertou o futuro de muita gente, talvez
sido chute, acho bem provável. O meu ele passou bem longe, e se fosse adivinho
de verdade, talvez teria previsto a sua demissão no ano seguinte. Nunca
acreditei mesmo nesse negócio de macumba e magia-negra.</div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
(Bruno Ottenio)</div>
Bruno Otteniohttp://www.blogger.com/profile/11331300395259789328noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5476999960205782535.post-27635955681290606172012-10-23T11:21:00.002-07:002012-10-23T11:21:46.013-07:00Aquele Homem Groover <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSAn8dvA4KVd-eiLpjCKcCQ_vV2QdS_tAfCC0MmqEdbCpU1p-CHiIoa5-KMsyV2bvRoAJ1HmVyL6F4Or-8jtGsAk_alDSvWs4nZT0XHURitRG8rVpqPgpQXLbjqWIkBonbuio7YC3BBWMD/s1600/jorge.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="190" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjSAn8dvA4KVd-eiLpjCKcCQ_vV2QdS_tAfCC0MmqEdbCpU1p-CHiIoa5-KMsyV2bvRoAJ1HmVyL6F4Or-8jtGsAk_alDSvWs4nZT0XHURitRG8rVpqPgpQXLbjqWIkBonbuio7YC3BBWMD/s320/jorge.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">“Pedrinho vai ser papai” Quem
diabos é Pedrinho? – Me perguntava. A idade nem me lembro, talvez uns sete, oito, ou
mais, ou menos. Mas foi assim que Jorge Ben se apresentou feito uma explosão que ecoa até hoje nos meus ouvidos.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Depois dessa vieram outras
histórias malucas, circos com comedores de raio-lasers, bulldogs violentos,
Alquimistas silenciosos, e pontas-de-lança lá da África; Mulheres também foram
muitas, Magnólia, Domingas, Jesualda, Tereza, e até uma moçoila belga chamada
Ive Brussel; Isso sem contar os santos, orixás, e causos do líder Zumbi.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Era um negrinho miúdo de óculos
escuros que tocava violão mais rápido do que qualquer outro da época, sem firulas,
sem solos monumentais, e sem pretensão. Jorge Ben dizia que seu sonho na adolescência
era tocar violão como João Gilberto. Tentou, buscou acordes diminutos, nonas
invertidas, quintas desdobradas, mas não conteve sua mão direita que sacolejava
incansavelmente sobre as cordas do instrumento. Então inventou, um novo jeito
de tocar, um novo ritmo que misturava a sofisticação da bossa nova com a
malandragem do samba.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">E foi assim que Jorge Ben surgiu,
modesto e magnífico. Destacou-se entre os grandes, Roberto, Erasmo, Tim, Gil,
Chico; Caiu no ostracismo, mudou de nome, Ben Jor, voltou e continua mais vivo
do que nunca, encantando e fazendo sambalançar todo bom cidadão de juízo que o
escute.</span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Confesso, os hormônios da
puberdade me levaram por um tempo à preferir as bandas de rock monossilábicas,
mas como diz o ditado <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“O bom filho a casa
torna”.</i> Voltei, e fui muitíssimo bem recebido pelo querido mestre Jorge Ben. Chorei
um pé na bunda ao som de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Cinco minutos”,
</i>superei a tristeza com <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Morre o burro fica o
homem</i>”, tomei cerveja com os amigos ouvindo <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“O homem da gravata florida”,</i> e estudei filosofia com <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Hermes trismegisto”</i></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Como foi conhecê-lo?<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>Foi como ouvir <i style="mso-bidi-font-style: normal;">“A tábua de esmeralda”</i> pela primeira vez na inocência da infância.
Jorge Ben faz bem, SALVE JORGE.<br />
<br />
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">“Pletora de alegria, um show de Jorge Ben
Jor”</i> – Caetano Veloso.<br /><br /><br />(Bruno Ottenio)</span></div>
<br />
<br />Bruno Otteniohttp://www.blogger.com/profile/11331300395259789328noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5476999960205782535.post-3159645337720779142012-05-19T08:55:00.001-07:002012-05-19T11:39:49.278-07:00Bolshoi<br />
<span style="font-family: 'Courier New', Courier, monospace;"> </span><span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif; font-size: large;">Morena
das covas e do cabelo bonito, venha pro meu sofá, me faça um cafuné e acenda
meu cigarro mentolado que compartilharei contigo. Fale-me demagogias,
suposições, onomatopéias, desde que encha meu copo americano com cerveja gelada
e um punhado de malícia feminina weberiana.<br /> Fiz oferenda à Xangô pra
ver teu riso ao menos duas vezes ao dia, já ouvi Jobim pensando em ti e já te
olhei pelos rabos dos olhos enquanto estavas distraída; prometo que raspo os
pelos da cara e passo ir à igreja todo domingo cedo se assim quiseres.<br /> Sim,
confesso, segui os conselhos de Vinícius e perguntei sobre ti ao meu orixá – Só
será bom se doer – confirmou o Deus dos trovões. Talvez não doa agora, tampouco
semana que vem, mas se um dia após sete barrigas, tu disseres que já não vê
brilho em meus olhos, chorarei de desolação e concordarei com o poeta.<br /> Hoje
apenas envergo-me em timidez, perto de sua particular idiossincrasia perco a
malandragem e os trejeitos que adquiri em anos de botequim e conversa fiada,
confundo verbos, pronomes, e pretéritos imperfeitos, embanano-me. Talvez por
esses olhos grandes que agradavelmente me violentam, ou quem sabe pelo meu
modesto linguajar interiorano.<br /> Só quero
vibrar junto de ti mais um gol do alvi-negro – como aquele do Basílio em 77
- e te levar ao Bolshoi, de primeira
classe e tudo.</span><br />
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif; font-size: large;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif; font-size: large;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif; font-size: large;"><br /></span><br />
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif; font-size: large;">(Bruno Ottenio)</span><br />
<span style="font-family: Times, 'Times New Roman', serif; font-size: large;"><br /></span>Bruno Otteniohttp://www.blogger.com/profile/11331300395259789328noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5476999960205782535.post-13002714327963248082011-12-27T04:31:00.000-08:002011-12-27T04:31:21.281-08:00Cessar<span style="font-family: inherit; font-size: large;">Deixei de escrever história, e comecei à vivê-las. </span>Bruno Otteniohttp://www.blogger.com/profile/11331300395259789328noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5476999960205782535.post-2189286643411304592011-11-17T03:54:00.000-08:002012-04-27T15:45:44.516-07:00Jaz teu réquiem Nunca fui simpático em relação à velórios; devo ter ido em três ou quatro no máximo, e em todos é sempre aquela mesma ladainha: Viúva chorando, cafézinho fraco, molecada correndo pra lá e pra cá, e aquele cheiro insuportável de difundo empalhado mesclado aos lírios podres.<br />
Porém farei questão de comparecer especialmente à um velório, o meu. Sim, eu sei que é meio óbvio mas quando digo que estarei lá, não me refiro ao meu corpo presente, até mesmo porque esse será apenas um presuntão amontoado numa caixa de madeira, mas estarei em espírito e ficarei sentadinho de pernas cruzadas pitando um cigarrinho ao lado do camarada que acabou de bater as botas, eu.<br />
Recuso qualquer oferta de passagem para outras vidas antes do funeral, sejam elas ofertadas pelo Todo Poderoso, ou sejam elas ofertadas pelo Tinhoso Belzebu. Eles é que não me venham com aquele papinho clichê de luz azul e fim do túnel, nessa eu não caio. Ficarei aqui, e desmentirei qualquer lágrima de crocodilo que pingares em meu caixão durante a unção do Padréco.<br />
Circularei por todo canto me embrenhando no meio das rodinhas de conversa, e me emputecerei com a hipocrisia póstuma que costuma açoitar aqueles que permanecem vivos: “Pobre coitado, era um sujeito tão bom, quase um santo” – Santo é a senhora sua mãe! E para aqueles verdadeiros e despudorados que se atreverem à relembrar as minhas falhas e bobagens em meio à essas lamúrias de nostalgia, esses sim terão o meu eterno apreço.<br />
Tomarei um cafezinho, brincarei de pega-pega com a molecada, e provavelmente darei muitas risadas com aquelas piadinhas que todo tio cretino teima em contar durante os velórios; seria um dia bacana e cansativo se eu estivesse vivo.<br />
Quando entoarem o salmo final e finalmente encherem-me de terra nos olhos, darei um beijo carinhoso à cada um que o mereça, e tentarei perdoar à todos que me fizeram mal, todavia um perdão que não garanto, pois mesmo depois de dormir pretendo guardar minhas memórias, e o mal que fiz, carregarei para sempre dentro dessa alma penada.<br />
<br />
<br />
Bruno OttenioBruno Otteniohttp://www.blogger.com/profile/11331300395259789328noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5476999960205782535.post-62613477265801064332011-10-12T16:31:00.000-07:002012-04-27T15:48:34.837-07:00Sorriso doloso<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Calibri;"> A parte de trás do cabelo cor de sol ficava enrolada formando um volumoso coque no alto da cabeça, a franja era delicadamente sobreposta sobre as sobrancelhas artisticamente delineadas. Pintava os olhos e os lábios, remodelava os cílios, e deixava escapar um sorriso de canto de boca quando conferia-se pela última vez no espelho do guarda-roupa arcaico. Jogava a bolsa sobre os ombros, pedia a benção de Jah, e tomava o ônibus às nove.<br />
Vivia à dizer-me que a vida no departamento pessoal era um bocado difícil, provavelmente seria deveras. Passava o dia contando horas, férias, folgas, avisos, décimos terceiros, extras e até mesmo tempo; contava tanto que às vezes encontrava-se consigo mesma em seus sonhos inconscientes, e lhe contava os seus segredos, seus planos, seus medos. Pensava em ir para o litoral, São Vicente talvez, contou pra si mais uma vez.<br />
Atrás da parede de vidro, via-se apenas seus cabelos reluzentes trançados de maneira bonita e engraçada, quando levantava a cabeça e observava o movimento continuo na repartição pública, abria-se num sorriso tímido e agressivo se acaso visse algo que merecesse tal gesto; sorriso embaraçoso, doloso, difícil não retribuir. <br />
E assim vivia, contava; e quando não o fazia, apenas ouvia o que as músicas lhe diziam e abria um novo sorriso embotado de esperança e bons fluídos.<br />
<br />
<br />
(Bruno Ottenio)</span></div>Bruno Otteniohttp://www.blogger.com/profile/11331300395259789328noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5476999960205782535.post-71197249515630564242011-10-09T16:04:00.000-07:002012-04-27T15:50:41.870-07:00Amnésia induzida Deixe de desdém mulher, não finja que esqueceu-se dos meus gostos musicais e nem pense que falhastes em minha memória aquelas várias epopéias que me contaste naquelas noites de Julho.<br />
Agora tu passas em frente ao botequim e nem se atreve a torcer o pescoço para acenar-me com riso bobo de poetisa que sempre fostes; inconformo-me com tamanha ignorância, e desatino em cachaça junto aos meus “amigos”, que bebem, e cantam Ataulfo Alves desgostosos feito eu.<br />
Aquele presente que me deu no dia em que completei anos, ainda guardo com muito apreço e estima, faz-me lembrar de ti sempre que o vejo sobre a estante de mogno empoeirada. Mas não arrisco à dizer que tais lembranças sejam benéficas, não sei de fato o que elas representam, mas o sabor é tão doce que amarga em meu paladar já inapurado.<br />
Pensas que não percebi quando me olhou de canto de olho ontem no metrô rumo à consolação, seus dedos negros folheavam inútilmente “Tristes Trópicos” enquanto me fitava ressabiada, Lévi-Strauss nunca havia sido tão indiferente diante de teus olhos dispersos.<br />
Sei que já deixou outros bebuns à torto direito, e que cada um morre um pouco dentro de ti à cada dia, mas hoje é domingo e está fazendo sol, talvez passe em sua casa para irmos ao cinema, ou talvez volte para a boemia que tão bem me quer e encontre você em outras rebentas, dessa forma, também morrerei mais um pouco e à matarei outro tanto.<br />
Agora virei marxista, ando dando pulos, e fazendo revoluções verdadeiramente legítimas, em breve você me verá na televisão ou irá em meu velório. Depois disso, peço por favor que não vanglorie-se ao dizer que um dia fui teu. Guarde esse segredo, e me deixe em sua eterna amnésia.<br />
<br />
<br />
<br />
(Bruno Ottenio)Bruno Otteniohttp://www.blogger.com/profile/11331300395259789328noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5476999960205782535.post-4367182084408061902011-09-18T13:45:00.000-07:002012-04-27T15:52:30.605-07:00És bonança<div style="text-align: center;">
<span style="font-size: x-large;"><b> Baboseira</b></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEga2OC8yK7QZB0223OgbPS22Z8xfU1emooDNrCxEqU5_AC64sA5LFRYHQQRHNcl2C9gdk5fPOVXIP166N-dGIki4F3ZBbK9XoasgZ_sXH5w1RzNBC6UEsGjt7FVhgTICwgzDVc-zBx_MC-m/s1600/macarr%25C3%25A3o2.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="174" rba="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEga2OC8yK7QZB0223OgbPS22Z8xfU1emooDNrCxEqU5_AC64sA5LFRYHQQRHNcl2C9gdk5fPOVXIP166N-dGIki4F3ZBbK9XoasgZ_sXH5w1RzNBC6UEsGjt7FVhgTICwgzDVc-zBx_MC-m/s320/macarr%25C3%25A3o2.png" width="320" /></a></div>
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<span style="font-family: inherit;">Pinte as unhas dos pés pois sabes que neles tenho fetiche, mas não penteie os cabelos, deixe-os assim, adoro esse desgrenhamento.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"> Hoje saio às quatro do trabalho, passarei no mercado e comprarei uma garrafa de vinho tinto, e um maço de cigarros para nós dois, voltei a fumar. De proveito, dou um pulo na locadora e pego aquele filme ridículo que você está com palpite, nem sequer lembro o nome.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"> Faça aquele macarrão ao pesto que tu sempre acertastes a mão; coloque dois pratos sobre a mesa e me espere ouvindo jazz, Miles Davis por favor, não precisa de luz de velas, deixe de frescuras, já temos energia elétrica e assim consigo vê-la melhor entre uma garfada e outra.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"> Jogue um colchão no chão da sala, e estenda aquele lençol de sede italiana que você ganhou de natal da sua tia-avó, bote o filme clichê, e prometo que tentarei prestar atenção; pouco me importa o final, só quero dormir com a mão em teu seio nu, e o braço enrolado em seu corpo suado.</span><br />
<span style="font-family: inherit;"> Pela manhã, só desejo sentir seu hálito adoravelmente quente e malcheiroso me desejando um bom dia como quem acordara pela primeira vez na vida, passe um café fresco e me conte sobre o seu dia anterior, porém faça-me o favor de não falar em política e inflação, se faltar assunto, não diga que me ama, nem tampouco que me adora, apenas abra seu sorriso branco, e diga como é bom estar comigo, ficarei tímido, corarei, mas depois de cinco minutos inteiros, direi o mesmo sem demagogia.</span><br />
<br />
<span style="font-family: inherit;">(Bruno Ottenio)</span>Bruno Otteniohttp://www.blogger.com/profile/11331300395259789328noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5476999960205782535.post-74579023705575872582011-07-31T18:06:00.000-07:002012-04-27T15:59:08.942-07:00Estopim<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhll6B8Odpny2l0GiJFo63n9vhYJl3GlYpt4wDdoK1ExFBh9dt_Ye3kbzmcOi2TezxfYzH4i6oNzmSld6MM5k2n9m9ebp6uvNw2YFUSTAG7eb-3eFv2eP_jhFUrqO-1s9laCMHB7ciToAqO/s1600/escritor.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="150" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhll6B8Odpny2l0GiJFo63n9vhYJl3GlYpt4wDdoK1ExFBh9dt_Ye3kbzmcOi2TezxfYzH4i6oNzmSld6MM5k2n9m9ebp6uvNw2YFUSTAG7eb-3eFv2eP_jhFUrqO-1s9laCMHB7ciToAqO/s200/escritor.jpg" t$="true" width="200" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"> Coçou mais uma vez os olhos por baixo dos óculos de grau e jogou com raiva a caneta sobre a folha de caderno ainda em branco, o relógio acusava oito horas da manhã de um sábado de outubro; lembrou com pesar a aflição que o açoitou ao receber o tema proposto para o seu folhetim semanal que seria publicado no domingo subseqüente: “O amor segundo os amantes”. Tema difícil deduziu logo de cara, nada lhe vinha à mente sobre a dissertação proposta, leu até alguns poemas de Rimbaud para encontrar inspiração para algo tão cauteloso e polêmico, não funcionou. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"> Equivocar-se falando de economia, política, ou talvez de gastronomia, é absolutamente tolerável, mas equivocar-se sobre o amor, é considerado uma heresia sem precedentes, o amor inquieta os leitores, causa frissom as madames, e amolece os doutores, - “Xingue a mamãe, mas não fale mal do meu dengo !” – tem gente que se ofende, pensou.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"> Recostou-se novamente na mesa, empunhou a caneta na mão esquerda, e encheu o peito como se fosse vomitar um milhão de palavras doces e singelas sobre o amor [...] nada. Enraivou-se mais uma vez e decidiu desvirtuar, levantou-se metendo um chute na cadeira e foi atrás de um estopim. Encheu um copo americano até o meio de cachaça Pedra 90, e virou numa talagada só, largou-se no sofá, ligou a TV, e zapeou cada inútil canal a procura de algo que o estimulasse literariamente; a urgência estipulada pelo editor chefe do jornal, só fazia aumentar a sua angustia, inquietou-se com a quantidade de baboseiras que a TV o impunha, e decidiu sair. Calçou os sapatos, ajeitou a camisa por dentro da calça, vestiu o paletó, e antes de sair passou a mão por cima da estante da sala apanhando um maço de cigarros.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"> Quem o via caminhando no calçadão de Ipanema embaixo de um sol escaldante, achava a figura no mínimo pitoresca; andava vagarosamente ajeitando o bigode que por muito pouco não cobria toda a boca, sacou um cigarro e o acendeu com as mãos tremulas, virou-se para o mar e imobilizou-se durante alguns segundos; continuava tão blasé quanto anteriormente, sua mente nunca esteve tão auto-suficiente, não pensava em nada, nem sequer percebeu o quanto o dia estava bonito.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"> “Maldito tema” – pensou mais uma vez inconsolado. Suando feito um porco embaixo do paletó com ombreiras, chegou até uma barraca de bagulheiras, sentou-se em frente ao mar, e pediu uma água de coco. Alguns moleques jogavam futebol na areia como se fosse um jogo entre Brasil e Argentina tamanha a seriedade e desempenho dos jovenzinhos, uns rapazes surfavam e faziam poses para as garotas de biquíni, as garotas por sua vez, estavam mais preocupadas em se bronzear e falar da vida alheia, alguns ciclistas passaram numa velocidade incrivelmente rápida logo atrás no calçadão, torceu o pescoço pra ver mas já estavam longe, tentou mais uma vez concentrar-se e focar a sua atenção para aquilo que teria de escrever, mas de nada lhe adiantava.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"> Ainda sentado em frente ao mar, e imerso em sua ausência literal, chegou a conclusão que ele próprio não tinha a menor idéia do que era o amor, talvez nem sequer havia sentido-o algum dia, considerou que seria impossível para um sujeito que nunca amou ninguém escrever sobre algo que nunca desfrutou; sentiu um vazio interminável no peito, engoliu a seco e sentiu saudades daquilo que nunca teve, acendeu mais um cigarro e decidiu que desistiria da publicação, enfiou a mão no bolso do paletó e apanhou o celular na intenção de ligar para o editor chefe para informá-lo sobre a sua desistência; antes de ligar, ergueu os olhos e viu rente ao mar um casal de velhinhos caminhando pacientemente sobre a areia molhada, de mãos dadas e cabelos brancos, trocavam beijos entre os passos e cafunés alternados, foi o sinônimo mais expressivo de amor que ele já havia visto; e num estalo de criatividade e sentimentalismo correu para o seu apartamento, sentou-se sobre a cadeira rente à mesa, e desandou à escrever na folha branca de papel, ao fim, considerou um dos seus melhores folhetins já escritos, “A amor segundo os amantes – O segredo da eternidade”, orgulhou-se do título; faltando pouco tempo para o fechamento da edição, enviou o seu material imbuído da certeza do sucesso e excelência do mesmo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;"> Na segunda-feira cedo, chegou radiante ao jornal e cumprimentou Elisete, a recepcionista, com um entusiasmado bom dia; além de não responder, a moçoila esticou-lhe um envelope e disse com uma voz aguda. – “O chefe pediu pra te entregar”. Pegou o papel das mãos da moça, botou a maleta no chão, abriu aflito o envelope e puxou o documento, alisou o bigode, e leu somente o título – “Carta de Demissão”. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<span style="font-family: Arial,Helvetica,sans-serif;">(Bruno Ottenio)</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt;">
<br /></div>Bruno Otteniohttp://www.blogger.com/profile/11331300395259789328noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5476999960205782535.post-84720788179084427722011-07-13T16:56:00.000-07:002012-04-27T15:59:24.126-07:00O bom Crioulo, no samba é professor<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-size: x-large;"><b>Pseudo-crônica</b></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6pa7XwRKByr8Ey6Xvhhyy0a-OOAp1CZA6A_2aIpBF69Xioi0UrS7P_Ov6IbSstJTvjfXUbhyphenhyphen3q3E0MpAV-Kjlqblj1c47cw1E6Q_V5Rs0AdCMzpi8erh8WNxuQV1GcB7lQ0Y_k9q7BGXU/s1600/dscf9897ep3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="150" m$="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6pa7XwRKByr8Ey6Xvhhyy0a-OOAp1CZA6A_2aIpBF69Xioi0UrS7P_Ov6IbSstJTvjfXUbhyphenhyphen3q3E0MpAV-Kjlqblj1c47cw1E6Q_V5Rs0AdCMzpi8erh8WNxuQV1GcB7lQ0Y_k9q7BGXU/s200/dscf9897ep3.jpg" width="200" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: left; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Depois de muita ladainha e muito tititi, o malandro deixou de conversa e resolveu fazer o que lhe seria pago para que fosse feito. Botou o copo de cerveja em cima de um caixote de frutas improvisado de mesa, puxou com vontade o último fumaceiro da cigarrilha de palha e o lançou pra longe quase atingindo os pés descalços de um neguinho maltrapilho que observava tudo atentamente, deu uma última ajeitada no chapéu panamá impecavelmente branco, e fez notável a sua vaidade quando conferiu pela última os sapatos para certificar-se de que eles ainda estavam limpos e engraxados do mesmo modo de que quando chegou no morro; juntou o violão ao peito, pigarreou com a voz rouca de baixo tenor, estralou os dedos um por um, e desatinou o vozeirão embalado com a harmonia do violão.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: left; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">A Favela virou uma festa só, o murmurinho silencioso de apreensão, tornou-se gritos histéricos de alegria coletiva; o negrinho curioso e mal vestido, agora pulava, cantarolava, e sorria de contentamento envolvido pelo samba do malandro marrento; aos poucos o pandeiro também ganhou destaque junto aos acordes precisos do violão, em pouco tempo o samba estava feito.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: left; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Cerveja, samba, mulatas, e alegria, era isso que o malandro mais gostava nessa vida, exibido que só ele, brincava de fora à fora no braço extenso do violão, de estipe elegante e despojado, cantava fazendo charme pra moças que sambavam ao seu redor; depois de uma pausa para um gole generoso de cerveja, pontilhou novamente o seu violão e saudou Cartola, decretou a alvorada no morro, ninguém sentia tristeza, muito menos desabor; lembrou de Leci Brandão e viu lá longe o Zé do Caroço dançando com um copo de cerveja na mão abraçado à duas mulatas, limitou-se à cumprimentá-lo com um aceno de cabeça e um sorriso sem interromper o sambalanço; de súbito, o malandro lembrou-se que teria que pegar o trem que sairia às onze horas direto pra Jaçanã, mas como já havia perdido a hora, resolveu ficar e tocar uma do tal Adoniran Barbosa, “Agora só amanha de manhã” pensou.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: left; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Em cima de uma laje distante, o malandro viu uma menina mulher da pele preta sambando solitária, a preta o fitou com seus olhos azuis, e escancarou o seu sorriso branco, retribuindo o gesto, o malandro mandou-lhe uma piscadela, e um beijinho no ar carregado de muita malícia, sujeitão charmoso que só.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: left; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Ali do ladinho, o malandro percebeu um sujeito meio ressabiado, de boina e camisa surrada aberta até o umbigo, o camarada olhava pros lados aflito e preocupado; meteu a mão no bolso e puxou um fumo diferente, ainda desconfiado, perdeu alguns minutos entretido com o cigarrinho que teimava em enrolar, quando percebeu que estava sendo observado pelo malandro, o sujeito se aproximou e falou acompanhado de um riso sacana – Vou apertar, mas não vou acender agora – meteu o cigarrinho no bolso da camisa, e se mandou</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: left; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Varou a madrugada na favela, fazendo a alegria do povão, cantando de um jeito maroto e vivo, e tocando violão como aprendeu com Pai João. Pouco à pouco, o morro esvaziou-se, e o malandro viu que era hora de correr atrás do bonde, ainda sorrindo, acendeu mais uma cigarrilha de palha e ajeitou novamente seu chapéu; ajoelho-se e guardou vagarosamente o seu violão chorão na mala; meio embriagado, viu a pretinha da laje se aproximando sorrateira de vestidinho azul claro.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: left; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">- Me pediram pra entregar o seu pagamento – Disse a preta com voz tímida tentando esconder o sorriso.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: left; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">O malandro levantou-se, passou a mão no rosto da moça, e lhe deu um beijo sem nem ao menos perguntar o seu nome, a moça desandou ainda mais na timidez, esticou-lhe os braços e entregou o pagamento ao homem, o malandro pegou a garrafa de cachaça das mãos da moça, botou embaixo do braço, jogou o violão nas costas, e foi-se embora assoviando alguma música do Jamelão.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: left; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: left; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">(Bruno Ottenio)</span></div>
<div align="left">
</div>Bruno Otteniohttp://www.blogger.com/profile/11331300395259789328noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5476999960205782535.post-82365129915282981542011-06-30T15:06:00.000-07:002012-10-23T11:52:20.260-07:00Boa noite, bom dia<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<span style="font-size: x-large;"><strong>Pseudo-crônica</strong></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBNQpTRvhA1n5yRAbSBWwSXLb9Jpz1vkKXJQ7yIvySJS64lkAhiyLleZq-XPWOMnMnD1tB_15vcaq5Sivre6Mo5XSViIDaaJ0pElo9alFgJh7fMYi6H6Nh1WBRyOg9VAoUxlXod1Og3rgK/s1600/jongo202.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="200" i="i" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBNQpTRvhA1n5yRAbSBWwSXLb9Jpz1vkKXJQ7yIvySJS64lkAhiyLleZq-XPWOMnMnD1tB_15vcaq5Sivre6Mo5XSViIDaaJ0pElo9alFgJh7fMYi6H6Nh1WBRyOg9VAoUxlXod1Og3rgK/s200/jongo202.jpg" true="true" width="196" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<span style="font-family: Calibri;"> Mal o atabaque estralou na mão de um filho de Oxóssi, a Negra já saltou num pulo expressivo e girou em volta de si mesma. Pés descalços, cabelos suspensos, e vestido branco rodado; a Preta dançava pros Orixás, brincava de ser Iansã, sorria feito Exú malandro, o terreiro ficou pequeno pra tanta formosura, mal se via o rosto da Crioula, só um vulto negro transcendendo os limites do tempo, do ritmo, dos planos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: left;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Naquela congada, a Neguinha tornou-se a rainha do jongo, pulava pra cá, pulava pra lá, girava como um peão, e esvoaçava a cabeleira. Coisa linda nunca viram igual, dizem que foi a Crioula mais bela que já passou <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>pelo Rompe Mato, tem caboclos dizendo que foram as duas horas mais curtas de suas vida, tamanho o encanto da Negra ao dançar.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: left;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Findo batuque, a Preta sorriu extasiada, passou as mãos sobre os cabelos, e os amarrou com um lenço florido, lavou o rosto e disse com a voz cansada – Tenho que ir, pego o ônibus às dez – E então ela partiu, voltou pra imanência. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: left;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Ilhada em meio à um amontoado de latas, a Preta olhava através da janela do ônibus e pensava na vida que tinha pra levar, nas contas pra pagar, no dia seguinte de trabalho; sacou um livro da bolsa e tentou ler um pouco de Guimarães Rosa, mas foi interrompida pelos buchichos que vinham do banco de trás, um casal de adolescentes discutindo a relação dentro do coletivo em pleno engarrafamento – “Você é um imbecil, seu ridículo” – acusou a menina. Tentou mais uma vez focar a sua atenção no livreto do Guimarães, mas dessa vez a distração foi ainda maior – “Em breve Jesus irá voltar meus irmãos” – Berrava efusivamente um senhor engravatado ao fundo do ônibus – “Tomara” – falou a Negra baixinho como se conversasse com ela mesma.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: left;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Cada passageiro uma história, um desafio, um castigo. Passou a observar algumas senhoras sentadas mais à frente, e viu a dor da luta e do descaso estampados nas peles negras, reconheceu o peso da vida e da morte refletido em alguns olhos tristes que também buscavam alguma luz através da janela do ônibus. Quando ela percebeu, estava transcendendo novamente, mas foi interrompida por uma nova distração:</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: left; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">- O negócio é o seguinte cambada, isso aqui é um assalto e não quero ninguém dando vacilo hein, vai botando celular, carteira, mp3, relógio, tudo aqui dentro, se ficar de patifaria vai tomar tiro na cara pode crer ?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: left; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Um por um, os dois moleques de touca e óculos escuros foram recolhendo os celulares, carteiras e badulaques alheios; estenderam o saco plástico em direção da Negra, mas dessa vez ele não foi preenchido, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>ela apertou a bolsa contra o peito e apenas encarou o menino com o olhar firme.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: left; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>- Escuta aqui Neguinha, tu ta querendo morrer ? </span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: left; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">- Eu sei o que você está sentindo – Respondeu a Negra, com a voz doce e com os olhos cheios d’água.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: left; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">O moleque deu dois passos pra trás e tirou os óculos revelando os olhos assustados, cutucou o parceiro que estava logo atrás, e sem dizer uma só palavra desceram do ônibus antes de concluírem o assalto.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: left; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">Quando chegou em casa, a Negra desabou sobre a poltrona velha e ficou imóvel durante um longo tempo, aos poucos foi se desmanchando em lágrimas de alivio, procurou sob a blusa sua medalha de São Jorge, e quando encontrou tascou-a um beijo como se agradecesse ao santo guerreiro pela vida; a Negrinha estava protegida, essa Preta tem o corpo fechado.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: left; text-indent: 35.4pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt; text-align: left; text-indent: 35.4pt;">
<span style="font-family: Calibri;">(Bruno Ottenio)</span></div>
<div align="left" class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
Bruno Otteniohttp://www.blogger.com/profile/11331300395259789328noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5476999960205782535.post-67730083125378447082011-06-18T09:00:00.000-07:002011-06-18T09:22:11.847-07:00[...] Pós-moderno<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: x-large;"><strong>Pseudo-crônica</strong></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLOoJqALzwhIV44qIJd50IocvTHtQiY8lq5deFAcyr2NQZmQtSZNcfiioYk2iLVXrzNz4EXTMn5TmETqBpqIj0OuKlFgz50XdmkUGiqzRRFzCoKitebP0ZocTB6W3qXG24RT-vaoHWAlYa/s1600/boate1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="197" i$="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLOoJqALzwhIV44qIJd50IocvTHtQiY8lq5deFAcyr2NQZmQtSZNcfiioYk2iLVXrzNz4EXTMn5TmETqBpqIj0OuKlFgz50XdmkUGiqzRRFzCoKitebP0ZocTB6W3qXG24RT-vaoHWAlYa/s320/boate1.jpg" width="320" /></a></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;">“La Fête”, esse é o nome da mais nova boate que inaugurou aqui pros lados do São João. Cabelo milimetricamente penteado, barba precisamente bem feita, um tapa na escovação pra tirar o “bafo”, e uma gotícula poderosa do Paco Rabanne que comprei na vinte cinco; prontíssimo pra cair na farra.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;">Por falta de companhia, decidi conhecer o cafofo sozinho mesmo. Na entrada havia um tumulto desgraçado causado por uns sabichões pré-adolescentes que armaram o maior barraco por conta da faixa etária – Você sabe por um acaso quem é o meu pai?! – <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>o segurança apenas sacudia a cabeça dizendo que não. Um rapazote magricela e bem vestido chegou em mim e disse meio ressabiado – Eae Brother, estou com uns comprimidos legais aqui, pra tirar o sono, saca ? – Saco, peguei logo dois, estava exausto.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;">Lugarzinho aconchegante, parecia aqueles botecos americanos que se vê nos filmes do Tarantino, gente bonita, boa decoração e o melhor do “Drumembeis”; juntei-me ao balcão e junto com um assovio inconsciente, gritei pro homem do bar:</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;">- Amigo, cowboy !</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;">- Ta na mão chefe – prontificou-se deslizando o copo de uísque pelo balcão.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;">- Amigo ! (assovio)</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;">- Amigo ! (assovio)</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;">- Amigo ! (assovio)</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;">Fiquei mais tranqüilo, relaxei, resolvi dançar, dancei, dancei, dancei, cansei, tomei um comprimido, e dancei, dancei, dancei. Vi lá longe um sujeito me encarando de um jeito meio estranho, quando levantou-se e veio caminhando em minha direção, pode vê-lo melhor; sujeito bonito, cabelos pretos arrepiados e bem aparados, barba por fazer, pinta de jogador de beisebol, e um elegantíssimo terno Ralph Lauren.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;">- Você é bi ? – Perguntou o homenzarrão se encostando perto do meu ouvido, não entendi a pergunta e quis parecer simpático.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;">- Sou Corinthians, desde moleque, daqueles roxos, podem falar o que quiserem mais aquele ataque de oitenta e dois sem dúvidas foi o melhor, Casagrande, Sócrates e Ataliba, que time !</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;">- Você beija homens? – Dessa vez o cidadão foi mais especifico. </span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>- Sim claro, meu filho, meu pai, meus tios, meu avô...</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;">- Olha aqui Brother, quero saber se você gosta de beijar homens na boca – O bonitão estava irritado dessa vez.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;">- Aaaaaaa, entendi (tentei, mas não consegui disfarçar a risadinha sem graça) mas não, não beijo não, tenho o maior respeito pelos irmãos, mas não.<span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;">O grandalhão se sacudiu, esbravejou algo, bateu o pé, e voltou me maldizendo à caminho do mesmo lugar onde estava sentado, não entendi muito bem a intenção do malandro, mas relevei a sua crise histérica momentânea.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;">Esses comprimidos realmente fazem efeito, comecei sentir umas coisas estranhas, enxergar formas abstratas, luzes bilaterais, vértices difundidos, resolvi ir embora, estava tarde.<span style="mso-tab-count: 1;"> </span></span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;">Antes de cruzar a porta, acendi um cigarro, e fitei o salão sem nenhum motivo especial, só pra ver o rosto das pessoas; elas estavam felizes, anestesiadas, saindo de si, aflorando-se num mundo despudorado; sorri sozinho, também sem motivos. Antes do derradeiro trago, vi no fundo do salão, duas mulheres de “mimimi”, fiquei na tara de que elas estariam se beijando, por um segundo pensei em continuar na festa e tentar realizar a minha mais sórdida fantasia sexual, mas supus que elas só estariam conversando. Traguei, cocei os olhos, e parti.</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;">(Bruno Ottenio)</span></div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div>Bruno Otteniohttp://www.blogger.com/profile/11331300395259789328noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5476999960205782535.post-64670683826878203512011-06-05T17:49:00.000-07:002011-06-11T19:18:56.691-07:00A moça que (des)amou<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span style="font-size: x-large;"><strong>Pseudo-crônica</strong></span></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><br />
</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUk6SKR6_FLKcpjlk_DL9ICUu6-Sy2outOEQQNwZgWnPSUvHhlRE5Vdq6NEGgR6B4vCGMhvNvcL96-GfFEmUT47s0X_D-A5yfQB4b_NTjXwiHk_UU6L6DLj12xS0zyBaz2nN2XbKJtLl1H/s1600/mulher-triste.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUk6SKR6_FLKcpjlk_DL9ICUu6-Sy2outOEQQNwZgWnPSUvHhlRE5Vdq6NEGgR6B4vCGMhvNvcL96-GfFEmUT47s0X_D-A5yfQB4b_NTjXwiHk_UU6L6DLj12xS0zyBaz2nN2XbKJtLl1H/s320/mulher-triste.png" t8="true" width="254" /></a></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Calibri;">Cresceu sempre muito bem alimentada à base de iogurte, leite em pó, e pão de forma com presunto e queijo; sua lancheira sempre era a mais recheada da turma.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Um amor de menininha, um orgulho pro papai, o docinho da mamãe; tocava Beethoven no piano para as visitas, ás vezes até arriscava uma palinha nas poesias de Dostoiévski – Que graça! – exultavam as visitas, batendo palminhas e enchendo os olhos d’água com sorrisos bobos.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Garotinha simpática era aquela, cabelos dourados cor de sol, sempre amarrado com um lenço cor-de-rosa bem engomado, o vestidinho sempre impecável repleto de rendas e babados, o sapatinho de boneca, havia ganhado do papai no último aniversário. Quando abria um sorriso, tudo ficava em paz, tudo se ajeitava [...]doce e harmonioso sorriso.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Começou cedo à trabalhar no escritório contábil do pai, embora não fosse necessário, ela levava à sério o setor de arquivos. Responsável e dedicada, era tecida de elogios pelo pai coruja, que à cada dois meses à presenteava com um generoso aumento.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Calibri;">Quando a mamãe percebeu, o seu tesouro já havia virado rapariga; não tocava mais piano, e nem beijava os pais na frente das amigas. Costumava <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>se trancar no quarto, e ouvir bossa nova pensando nos amores platônicos, ninguém descrevia tão bem os seus sentimentos, quanto Tom Jobim.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Desde de criança, o papai sempre à alertou sobre os rapazes, mas a moça era curiosa, teimosa, aflita, apaixonou-se, amou além da conta, e chorou como o pai havia previsto. Chorou dessa vez por perder um amor real, e não platônico, percebeu que o real doía ainda mais, e percebeu que o Tom Jobim era meio abstrato, positivista demais, passou à preferir o Chico, <span style="mso-spacerun: yes;"> </span>trancou o peito.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Resolveu dançar pela dança do mundo, bailou com rapazes diferentes, com moças diferentes, confundiu os prazeres, alternou taras, virou noites e mais noites em claro, sorrindo e cantando, chorando e remoendo. Tentou de novo, uma, duas, três vezes...não conseguia mais, deixou de amar.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Teve uma vida confortável e maluca, experimentou de tudo, viu o mundo em suas várias facetas, até que sossegou com previu que sossegaria; Mal conseguiu chorar quando o pai morreu dois meses depois da mãe; pitava seu cigarro de menta procurando lembranças na varanda de casa, mas nada vinha-lhe à mente, todos os doces momentos haviam se apagado em sua mente já cansada.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Morreu velhinha de morte morrida, sozinha em casa [...] bebeu o cálice de vinho, depositou o cigarro ainda aceso na mesinha de centro, sentou-se vagarosamente na cadeira de balanço, e sentiu o peito apertar como à tempos não sentia, havia até esquecido que ali batia um coração, um pouco antes de morrer, ouviu a introdução de uma música do Chico que tocava na vitrola, tentou identificá-la para torná-la a sua música de morte, mas antes do carioca cantar, ela cochilou.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt;"><span style="font-family: Calibri;">(Bruno Ottenio)</span></div>Bruno Otteniohttp://www.blogger.com/profile/11331300395259789328noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5476999960205782535.post-42273805912163569762011-05-29T10:49:00.001-07:002011-06-02T05:32:45.622-07:00Café amargo<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0.9pt 0pt 17.6pt; mso-layout-grid-align: none; tab-stops: 36.0pt; text-indent: -9pt;"><div style="text-align: center;"><span style="font-family: "Segoe UI", "sans-serif";"><span style="font-size: large; mso-tab-count: 2;"><strong>Baboseira</strong></span></span></div><br />
<span style="font-family: "Segoe UI", "sans-serif"; font-size: 11.5pt;"><span style="mso-tab-count: 2;"><strong> (Contribuição da famigerada Jamile Angelo)</strong></span></span><br />
<br />
<span style="font-family: "Segoe UI", "sans-serif"; font-size: 11.5pt;"> Ontem eu fui dormir e percebi como eu gostava da minha cama. Como eu gostava de dormir esparramada e cheia de travesseiros.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0.9pt 0pt 17.6pt; mso-layout-grid-align: none; tab-stops: 36.0pt;"><span style="font-family: "Segoe UI", "sans-serif"; font-size: 11.5pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Hoje eu acordei e já arrumei minha cama, não gosto de ter que fazer isso depois. Fui pra cozinha e não tinha nenhum copo sujo de coca-cola em cima da pia, passei o meu café. Exatamente um copo, não ficou forte nem fraco, não sobrou e nem faltou. O dia seguiu tranqüilo não tinha nada fora do lugar, não tinha maços de cigarro espalhados pela casa, nem muitos fios de cabelo no chão. </span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0.9pt 0pt 17.6pt; mso-layout-grid-align: none; tab-stops: 36.0pt;"><span style="font-family: "Segoe UI", "sans-serif"; font-size: 11.5pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Adoro passar o dia no meu quarto, sozinha, lendo os textos para a aula de amanhã. O tempo nem sempre passa rápido, mas quando escurece tudo está em ordem e o dia foi exatamente como deveria ser.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0.9pt 0pt 17.6pt; mso-layout-grid-align: none; tab-stops: 36.0pt;"><span style="font-family: "Segoe UI", "sans-serif"; font-size: 11.5pt;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>Não sei por que, mas a verdade é que eu trocaria esse dia perfeito, com todas essas coisas que eu tanto gosto, por um dia com você!</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0.9pt 0pt 17.6pt; mso-layout-grid-align: none; tab-stops: 36.0pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0.9pt 0pt 17.6pt; mso-layout-grid-align: none; tab-stops: 36.0pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0.9pt 0pt 17.6pt; mso-layout-grid-align: none; tab-stops: 36.0pt;"><span style="font-family: "Segoe UI", "sans-serif"; font-size: 11.5pt;">(Jamile Angelo)</span></div>Bruno Otteniohttp://www.blogger.com/profile/11331300395259789328noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5476999960205782535.post-70105094003156033372011-05-28T07:11:00.000-07:002011-06-02T05:18:40.802-07:00Reajuste<div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"><span style="font-family: Calibri; font-size: x-large;"><strong>Pseudo-crônica</strong></span><br />
<br />
<span style="font-family: Calibri;">“Ilmo Sr locatário Paulo Roberto Campos Lopes</span></div><div align="center" class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-align: center;"><span style="font-family: Calibri;">Viemos por meio desta, comunicar-lhe que o aluguel do imóvel sitio à Rua Florindo Cibin, nº 781, centro, Americana –SP, sofrerá um reajuste de seis por cento como previsto e formalizado no contrato de locação. À partir de junho, o seu aluguel já será reajustado e incluído os devidos tributos. Caso haja eventuais dúvidas, favor entrar em contato com o nosso departamento financeiro, Obrigada.”</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;"><span style="font-family: Calibri;">- Escuta aqui ô Boy, que porcaria é essa? – Perguntou indignado o empresário gordo de cabelos brancos ralos.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Calibri;">O motoboy magricela parou imediatamente de fuçar no celular, e foi acometido por um surto de raiva instantânea. Sentiu vontade de responder – Boy é a Puta que lhe paril – mas achou melhor não criar caso.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;"><span style="font-family: Calibri;">- É um comunicado campeão.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;"><span style="font-family: Calibri;">- E o que essa palhaçada quer dizer?</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;"><span style="font-family: Calibri;">- É só ler amizade – Respondeu debochando e voltando novamente à atenção para o celular.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;"><span style="font-family: Calibri;">- Seis por cento de reajuste, isso é um assalto ! – Esbravejou o gordão esmurrando a mesa.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;"><span style="font-family: Calibri;">- Pois é chefe, mãos ao alto! – Tentou descontrair mas não deu certo.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;"><span style="font-family: Calibri;">- E você ainda acha graça seu moleque de merda? Isso é inadmissível, não vou pagar seis por cento à mais, nem por decreto, vou consultar meu advogado, vou aos órgãos responsáveis, vou ao PROCON, vou até aos quintos dos infernos, mas não pago seis por cento.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;"><span style="font-family: Calibri;">- Ok Chefe, é só assinar o protocolo – Falou mais despretensioso que nunca, com a intenção de finalizar as lamentações.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span></span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;"><span style="font-family: Calibri;">- Não vou assinar porcaria nenhuma – Bateu com a caneta na mesa, recostou sobre a cadeira, e cruzou os braços com cara de garoto mimado.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Calibri;">Já sem saco para tanta ladainha, o motoboy se aproximou da mesa do grandalhão, puxou com raiva o protocolo, e o enfio dentro da bolsa sem dizer uma só palavra, fitou-o com os punhos fechados por alguns segundos, virou as costas, e partiu. Antes de cruzar a porta, parou o passo, virou-se, e desabafou.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Calibri;">- É complicado né chefe? Esse negócio de reajuste...O preço do ônibus que eu tomo pra trabalhar, sofreu um reajuste de oito por cento, a gasolina está os olhos da cara, dizem que o reajuste foi pra mais de cinco por cento, esses dias fui comprar o leite dos meus moleques, e o preço estava cinqüenta centavos mais caro, sem contar essas taxas de financiamentos malucas, ainda só não comprei a minha gringa, por conta desses juros abusivos. E sabe o que me deixa mais chateado Doutor, é que ninguém me mandou um comunicado.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><span style="font-family: Calibri;">Apoiando o queixo com as duas mãos sobre a mesa, o gordão estava imóvel e boquiaberto. Sem dizer nada, fez sinal para o motoboy magricela se aproximar, escreveu algo no ar com uma caneta imaginária como se pedisse de volta o bendito protocolo, socando a mão na bolsa, o motoboy sacou o protocolo amassado e jogou com ar de superior na mesa do empresário. Mas que depressa o gordão assinou o protocolo e fez sinal para o motoboy esperar mais um segundo, levantou-se da cadeira, enfio a mão no bolso, e puxou uma carteira rechonchuda, fuçou o calhamaço de dinheiros por alguns segundos, e a fechou depois de pegar vinte reais.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-spacerun: yes;"> </span>- Tome um refrigerante.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="mso-tab-count: 1;"> </span>O magricela pegou o dinheiro, o protocolo e socou tudo na bolsa. Saiu satisfeito do escritório, e tomou uma cerveja gelada com ar de malandro orgulhoso no boteco do André.</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;"><span style="font-family: Calibri;">(Bruno Ottenio)</span></div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt; text-indent: 35.4pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;"><br />
</div><div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 0pt;"><br />
</div>Bruno Otteniohttp://www.blogger.com/profile/11331300395259789328noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5476999960205782535.post-57390565887597502102011-05-18T16:20:00.001-07:002011-06-02T05:34:01.142-07:00Ateísmo, a nova tendência do verão<div style="text-indent: 35.4pt;"><div style="text-align: center;"><strong><span style="font-size: x-large;">Idéia</span></strong></div><br />
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Mesmo depois de embarcar nesse destruidor de ideologias que é o curso de Ciências Sociais, cujo a principal função é catequizar inversamente os nobres e críticos alunos intelectuais, ainda teimo em acreditar em “Deus”</div>Os mais conservadores esbravejariam “Onde já se viu um Cientista Social Cristão ?”, ora bolas, é aí que entra o maravilhoso mundo da antropologia, cada um acredita em o que quer, come o que bem entender, e vive como lhe dá na telha (adoro antropologia). E quem foi que disse que ser ateu é pré-requisito pra ser Cientista Social ?<br />
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Ás vezes chego a acreditar que não passa de charme, é requintado afirmar em alto e bom som “Eu sou ateu”. Porém, toda via, por hora, minha intenção não é bancar o testemunha de Jeová e evangelizar os jovens mancebos aos domingos de manhã, e sim falar um pouco desse cidadão confuso e irônico que todos o chamam de Deus.<br />
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Uma vez escutei uma frase engraçada, “Deus é um garoto levado, brincando com uma lupa sobre um formigueiro”, confesso que não hesitei em concordar com tal frase. Na minha humilde opinião Deus existe sim, mas o que eu direi aqui poderá chocar as carolas de plantão, por isso se você ainda imprime folhetos pra Santo Expedito para atingir a graça, ainda vai à missa todo domingo pra ouvir sempre o mesmo discurso, e ainda se confessa com o confiável vigário duas vezes ao mês, pare agora de ler essa heresia e vá se benzer o mais rápido que puder.<br />
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Deus não é um senhor de cabelos e barbas brancas com um cajado na mão, ele sou eu, é você, é o cachorro da vizinha, é o mendigo da praça da Sé, é o mar, o vento, os sentimentos, Deus é o amor, o ódio, a íra, a alegria, o contentamento, o descontente. Deus não está nas igrejas, mas sim nos bordéis, nos cassinos e nas bocas de fumo.<br />
Deus tem projetos macros, ele não liga se você está triste porque não ganhou aquele tão sonhado presente de natal, está pouco se lixando se está sofrendo porque seu namorado fugiu com o circo e casou-se com a trapezista, Deus não vai te mandar pro mármore do inferno se você transar antes, durante, ou depois do casamento, e ele está cagando e andando pra quantas vezes você foi no culto essa semana.<br />
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“Ele morreu porque Deus quis assim”, não, ele não quis assim, o cara morreu porque simplesmente tinha que morrer. Os seus sentimentos individuais são seus e Deus não está nem aí para o seu egocentrismo, e para a sua hipocrisia. Ás vezes ele tira um barato da gente, pra matar o tempo celeste, mas ás vezes faz a coisa certa.<br />
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“Tentei ser crente, mas meu Cristo é diferente”<br />
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AXÉ<br />
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(Bruno Ottenio)<br />
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</div>Bruno Otteniohttp://www.blogger.com/profile/11331300395259789328noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5476999960205782535.post-53791571172855100762011-05-15T10:04:00.001-07:002011-06-02T05:21:49.998-07:00Caixa de cervejas<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; margin: 0cm 0cm 10pt; text-indent: 35.4pt;"><div style="text-align: center;"><span style="font-family: Calibri;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif; font-size: x-large;"><strong>Pseudo-crônica</strong></span></span></div><br />
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<span style="font-family: Calibri;"><span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;"> Depois de uma semana exaustiva ministrando aulas nas turmas de ensino médio, finalmente chegou a tão esperada sexta-feira à tarde. Saí do colégio com um palpite famigerado de tomar cerveja com porção de queijo parmesão; passei no supermercado no caminho de casa e sem hesitar depositei uma caixa de cervejas no carrinho de compras; saí cruzando os corredores em busca do queijo – “Queijo Parmesão Temperado” – era isso que dizia a embalagem, resolvi experimentar; ao lado da prateleira de queijos, havia a sugestão de alguns vinhos, lembrei da patroa, ela adora vinho, apanhei uma garrafa – “Tinto suave de mesa” – parecia ser bom.</span><br />
<span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;"> Me casei à pouco tempo, sempre me esqueço a data mas faz uns quatro anos mais ou menos, ainda não temos filhos, não por falta de tentativas, deve ter algo errado com a gente.</span><br />
<span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;"> Chego em casa atrapalhado com a sacola e dou de cara com a Patroa sentada rente à mesa com cara de amuada, resmungava algo em baixo tom, como se conversasse com um amigo imaginário. Dando-se por conta da minha presença, ergueu os olhos e me deu um sorriso triste seguido de um beijo rápido.</span><br />
<span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;"> Lamuriou-se então fervorosamente, estava com problemas no trabalho, datas estipuladas, pressão do chefe, e um milhão de planilhas pra preencher. Como não entendo bulhufas de setores administrativos, pude apenas ouvir, e arriscar a dizer que tudo iria dar certo.</span><br />
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<span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;">- Não sei pra que uma caixa de cerveja ! - Reclamou enquanto eu desensacava a cerveja, o queijo e o vinho, fingi que não ouvi.</span><br />
<span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;">- Adoro esse vinho ! – Contentou-se agora já abrindo a garrafa.</span><br />
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<span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;"> Enquanto cortava o parmesão em cubos, conversávamos sobre várias coisas; sobre o feriado na praia, sobre o stress das aulas, sobre o governo Dilma, sobre como o cabelo da Kátia havia ficado engraçado, até sobre o novo carro zero-quilômetro que o vizinho comprou, carro ridículo.</span><br />
<span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;">Apanhei uma cerveja e me esparramei no sofá, me atrapalhei um pouco com o controle remoto, os meus momentos na sala eram raríssimos. Logo atrás já veio a Patroa, também segurando uma lata de cerveja.</span><br />
<span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;">- Não sei pra que uma caixa de cerveja ! – Tornou a esbravejar um pouco mais dócil dessa vez.</span><br />
<span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;"> </span><br />
<span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;"> Deitou a meu lado no sofá apertado, e abraçou-me como se temesse um dia me perder. Continuamos conversando por muito tempo, vez ou outra prestávamos atenção no filme sem graça que passava na TV. Já com o riso mole, me abraçava ainda mais forte e fazia cachos no meu cabelo.</span><br />
<span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;"> Percebi que a cerveja havia acabado, a garrafa de vinho estava seca no chão da sala ao lado do prato vazio que à pouco estava o parmesão. Sentíamos-nos mais cúmplices do que nunca, sua pernas entrelaçadas às minhas, se tornavam uma só. Não fizemos amor naquela noite, apenas dormimos abraçados e bêbados; antes de pegar no sono ela abriu um sorriso embriagado, olhou nos meus olhos e disse rendendo-se ás gargalhadas.</span><br />
<span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;">- Não sei pra que uma caixa de cerveja – Apertou-me e adormeceu</span><br />
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<span style="font-family: Times, "Times New Roman", serif;">(Bruno Ottenio)</span></span></div>Bruno Otteniohttp://www.blogger.com/profile/11331300395259789328noreply@blogger.com0