Pseudo-crônica
Estão tramando algo contra mim, hoje cedo no caminho para o trabalho, notei que havia um sujeito me seguindo , um homem negro e alto, engravatado, terno engomado preto, e um simpático chapéu panamá, apertei o passo para tentar despistá-lo mais quando me dei por conta, o infeliz já estava me perguntando as horas, logo percebi que se tratava de um agente secreto da Receita Federal fazendo uma investigação sobre as irregularidades nas minhas declarações.
Chego ao trabalho e dou de cara com a Elaine, a recepcionista , uma moça magrela e muito pálida, os cabelos são tão louros que até arde os olhos, com os dentes rebocados de batom vermelho, olha pra mim, sorri, e me deseja um sínico “Bom Dia”. Bom dia uma ova maldita jararaca, há tempos que vem querendo roubar o meu cargo na divisão de vendas, à mim ela não engana.
Há algum tempo decidi parar de almoçar no restaurante da empresa, tenho pra mim que o Durval, o cozinheiro, está tentando me envenenar de qualquer maneira. Desde então, trago marmita de casa, porém eu mesmo a faço, desconfio que minha mulher compartilhe do mesmo desejo de Durval, a bruáca quer me matar de qualquer jeito, só pra receber a minha pensão, e realizar a sua tão sonhada viajem pra Juazeiro do Norte.
Na volta pra casa, o cobrador do ônibus sorriu e acenou com a cabeça no exato momento em que cruzei a roleta, esse abusado só pode estar de brincadeira comigo, ele deve saber de algo a meu respeito, ou meu cabelo deve estar com cocô de passarinho, ou tem alface entre os meus dentes, ou esse displicente deve estar me achando com cara de palhaço, ou de ator do zorra total, por muito pouco não mando o infeliz dar risada pra puta que o paril.
Tomei uma atitude sensata esses dias, comprei uma arma, isso mesmo um revólver, um trinta e oito, um chorão, um buldoguinho...Enfim, agora me sinto mais seguro nas peladas de sábado à tarde, prefiro assim pra evitar maus entendidos, principalmente com o Jurandir, aquele safado do departamento pessoal, se faz de simpático, de bonzinho, de esportista, mais está louco pra quebrar minha perna, faz tempo que flagro a maldade e a sujeira em seu olhar, e ainda tem a cara-de-pau de me convidar pro churrasco de domingo na casa dele, desaforado !
Fui fazer alguns exames de rotina e o Dr. Moreira me pergunto se eu tomava bebidas alcoólicas com freqüência, me senti redondamente ofendido, esse sabichão deve estar me achando com cara de cachaceiro, de alcoólatra, de bebum. Doutorzinho arrogante, só porque tem um diploma embaixo do braço, acha que pode me julgar dessa maneira, se eu bebo ou não é problema meu, canalha.
Deixem-me em paz seus crápulas, parem de me perseguir, de me atormentar, de me confundir. Não os levo em consideração, e deixem que o meu caixão, carrego eu..
(Essa é uma história de ficção, baseada em fatos irreais ) (ou não)
(Bruno Ottenio)