quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Fim da rua

Baboseira


Sabe moço

Hoje meu deu uma vontade danada de pagar essa rua cumprida e ir até o fim
Só pra ver como é, só pra ser diferente, pra gastar todo o "faz-me-rir"
Gastar com bobices mesmo, cervejas, boemia, e outras bilongas
Talvez eu compre uns discos, minha coleção anda meio parada
O último foi do Chico, aquele com o bigodinho...

O Chico é bom, bom letrista, ótimo letrista
Me faz pensar no rio, no Tom, no Jorge, no Tim, no Roberto
O Roberto cantava alto
Gritava nos meus ouvidos enquanto lavava os pés sujos de asfalto no quintal

"Pés sujos no piso nem pensar !"
Esse era o bordão da Maria, entre vários outros:
É Proibido fumar ! Cálice ! Cuidado pra não cair dessa bicicleta !...
Caí, não só da bicicleta, mais da cama,do muro, do mundo.

"Vá pra puta que lhe paril !" se tornou bom dia
"Pare de encher o saco" era,  oi tudo bem como vai você ?
Mais era sincero, de coração, carinhoso

Nunca gostei de palavras difíceis, até porque
"Um idiossincrático, mais parcimonioso, em um dia sorumbático devido a uma consuetudinária"
Compreendeu ?
Pois é [...] pois é

Intelecto é um negócio difícil
Um cidadão que entende de Schopenhauer é intelectual
E um cidadão que entende de como podar uma árvore com perfeição, é o que ? Jardineiro ?
Pois é [...] pois é

O Chico sim é intelectual, ele canta, ele toca, compõe, lê Schopenhauer, poda árvores
E o mais importante...
Tem um belo par de olhos azuis, ás vezes desafina no ré sustenido menor.
Mero detalhe
Mero detalhe
Meros detalhes

Meros meros detalhes, os pés sujos, o piso limpo, as cervejas, os músicos, as músicas, a puta que lhe paril, o ré sustenido menor até o Shopenhauer

Sabe moço

Acho melhor deixar pra lá esse negócio de caminhada até o fim da rua
Minha carroça sempre quebra, meu burro sempre cansa, o sapato sempre aperta.
Eu vou é guardar o “Faz-me-rir”, e comprar um barraco em Itaquera
Se sobrar uns cruzeiros, pago a faculdade das crianças
(Bruno Ottenio)

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