Hoje vou falar de homem...De homem não, de macho. Isso
mesmo, machão, daqueles que coçam o saco e não cruzam as pernas em nenhuma
hipótese. Mas não falarei de machos em geral, e sim de um grupo em especial que
sofre as terríveis opressões diárias proporcionadas pela pós-modernidade:
Machos, brancos, heterossexuais e ricos.
Há poucos dias, em uma “palestra” do não menos “sofrido”
Luiz Felipe Pondé, escuto nas caixas de som um rapaz que lamentava-se no
microfone cedido aos expectadores ao fim da descabida fala do Sr. Pondé. Depois
de quarenta e cinco minutos vomitando besteiras e sendo constantemente
hostilizado com cartazes e vaias vindas de um grupo de feministas; haja
visto que o Sr. Pondé detesta feminismo, feministas e minorias, ao ponto de
publicar por diversas vezes em sua coluna semanal na Folha de São Paulo ofensas
sem rodeios contra as moçoilas militantes as quais ele chama de “Nem tão
mulheres assim”. Voltemos ao rapaz convalescido ao microfone.
Com voz trêmula e emocionada, o jovem sarado, de camiseta
pólo e bochechas rosadas agradeceu imensamente a presença do palestrante Pondé,
e expressou seu indignado repúdio contras a mulheres ali presentes que
hostilizavam o palestrante, se é que podemos chamá-lo assim. “Vocês são todas
fascistas e antidemocráticas, ninguém é obrigado a concordar com vocês, é preciso
respeitar todas as opiniões diferentes”. Não lembro com exatidão as palavras de
lamúrias proferidas pelo rapaz, mas foi basicamente isso.
Confesso que me comovi à priori com o tom de desolação.
Pobre rapaz, vítima e testemunha ocular do “fascismo feminista”. Afinal, nessa
sociedade desigual e doentia, todos de alguma forma tornam-se vítimas, certo?
Refleti momentaneamente. Deve ser realmente MUITO difícil viver em uma
sociedade que discrimina estes senhores tão oprimidos.
Nunca colocaram os pés na quebrada, nem mesmo para comprar
a indispensável droga pré-balada (Esses fazem uso do serviço Express); Jamais
receberam tapas na cara da truculenta polícia simplesmente por parecerem suspeitos;
Nem nos pesadelos mais terríveis, foram proibidos de entrar naquela loja de
grife por estarem mal vestidos; Só utilizam o transporte público quando vão
passar as férias na Europa; Aquela camiseta de marca nunca lhes pareceu cara
demais; Jamais foram alvos de violência gratuita física e verbal [...] Mas
ainda sim, esse grupo secular sofre com o “fascismo” da minorias. Quando digo
minorias, não digo numericamente, mas minorias em direitos.
Logo, entendemos como minorias (em direitos); Mulheres,
negros, homossexuais, pobres, entre outros grupos que, segundo os nossos machos
sofredores, não passam de ditadores que impõe diariamente um padrão ao qual os
varões citados acima jamais conseguirão se enquadrar. Sofrem, choram, e
sentem-se oprimidos simplesmente por serem brancos, héteros, homens, ricos.
Sofrimento de verdade, pra mim (pobre e preto), é quando os
“sofridos homens brancos” invertem os papéis. Opressor vira oprimido, e
oprimido vira fascista. Zumbi dos Palmares foi fascista, Pagu foi fascista, Malcolm
X foi fascista, Lampião foi fascista, Harvey Milk foi fascista. Sendo
assim, sejamos todos fascistas contra esses Senhores de Engenho do Século XXI.
(Bruno Ottenio)