Logo quando nasceu, Isaias foi
diagnosticado como uma doença rara chamada “Didelphis axilóide
aguda”. A doença inusitada era manifestada de acordo com as variações
emocionais do garoto. Quando sentia-se feliz e empolgado com alguma situação
corriqueira, seu córtex cerebral liberava endorfinas que simultaneamente lhe
causavam um insuportável mau-cheiro nas axilas.
No começo, quando
recebia o suculento peito da mãe após os histéricos gritos de fome, o bebê
fechava os olhos com cara de satisfeito e exalava o insuportável fedor que
desconcertava Dona Edith, a mãe. Não suportava sequer cinco minutos com a
criança em teu seio. Edith revirou o país a procura de algum médico que curasse
o “defeito” do menino, mas todos lhe davam o mesmo prognóstico: Não há cura,
tampouco tratamento. E assim, por falta de opções, Isaias foi crescendo e
fedendo absurdamente sempre que sua boca abria um mísero sorriso de felicidade.
Quando entrou na
pré-escola, conheceu os cruéis apelidos atribuídos pelos coleguinhas de sala:
Subaqueira, Gambazento, Fedô, entre outros tantos. Lanchava sempre sozinho pra
evitar as piadócas e quando fazia gols nas aulas de Educação Física ninguém o
abraçava nas comemorações. Todavia, quando ia mal nas provas, triste e livre do
mau cheiro, todos se aproximavam para debochar mais uma vez do pobre Isaias.
O calvário maior
do rapaz ainda estava por vir. Na adolescência, completamente retraído e
traumatizado com os anos de catinga, sempre evitava as festinhas da galera.
Ficou surpreso quando recebeu o convite do aniversário de 15 anos da Lurdinha,
decidiu que iria e que daria um jeito de conter sua euforia; pobre coitado, bebeu
demais e intoxicou a festa da moça com tanto mau-cheiro. As apaixonites da
adolescência chegaram e junto delas o insuportável fedor de Isaias, por conta
disso, o desgraçado jamais teve uma namorada. Seus tios não suportaram ficar na
sala junto de Isaias quando o Vasco ganhou o campeonato brasileiro. E assim o
rapaz foi vivendo, fedendo sempre que sentia-se bem, conseqüentemente,
espantando todos a sua volta.
Os momentos de mau
cheiro ficaram escassos ao longo do tempo. Cresceu, arrumou um emprego,
formou-se em Engenharia Civil, comprou um apartamento, no entanto jamais
livrou-se de sua doença. Perfumes e loções pós-barba eram inúteis nos momentos
que o rapaz desatinava a feder. Logo, se viu sozinho, vítima de sua própria
felicidade.
Isaias morreu
cedo, quarenta e poucos anos, talvez de tristeza, talvez de ataque cardíaco,
fumava demais disseram os médicos. Foi encontrado só em seu apartamento livre de qualquer mau cheiro. Em seu túmulo havia os seguintes dizeres: “Aqui
jaz Isaias, fedeu demais porque tentou sorrir”.
(Bruno Ottenio)