Meu Bar Mitzvá também foi aos treze. Não foi na mesquita, não usei quipá, não me levantaram na cadeira, na verdade, nem sou judeu.
Lembro que o sol queimava forte na esquina da rua Luiz Carlos Prestes com a Tancredo Neves. De pés descalços e rosto suado, sentei em cima da bola de capotão naquele pequeno intervalo antes de voltar à pelada. Rubinho sacou um baseado do bolso e o acendeu com fósforo “Fiat lux”.
- Maricas – Resmugou Rubens quando recusei o beck.
Wilian, o dono da bola, esbravejou comigo:
- A bola vai ficar oval, filho da puta!
Sempesco sacaneou Elías:
- Ei Viadinho, fala pra sua irmã que estou com saudades dela. Já bati várias praquela gostosa.
Antes do brown chegar ao fim, vi Jonas descendo a ladeira feito um tanque de guerra com os olhos cheios de lágrimas. Gritava e gesticulava algo que não conseguíamos entender. Foi chegando, chegando, chegando, e tudo ficou claro:
- Filhos da puta! Filhos da puta! Mataram o Rick! Mataram o Rick!
Mataram o Rick. Quem matou ninguém sabe até hoje. Talvez os gambé, talvez cobrança; mas o Rick estava morto. Não jogamos mais bola naquele dia.
Ali, virei adulto.
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