sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Mazel Tov




           Meu Bar Mitzvá também foi aos treze. Não foi na mesquita, não usei quipá, não me levantaram na cadeira, na verdade, nem sou judeu.
        
           Lembro que o sol queimava forte na esquina da rua Luiz Carlos Prestes com a Tancredo Neves. De pés descalços e rosto suado, sentei em cima da bola de capotão naquele pequeno intervalo antes de voltar à pelada. Rubinho sacou um baseado do bolso e o acendeu com fósforo “Fiat lux”.

- Maricas – Resmugou Rubens quando recusei o beck.

Wilian, o dono da bola, esbravejou comigo:

- A bola vai ficar oval, filho da puta!
         
             Sempesco sacaneou Elías:

- Ei Viadinho, fala pra sua irmã que estou com saudades dela. Já bati várias praquela gostosa.
          
           Antes do brown chegar ao fim, vi Jonas descendo a ladeira feito um tanque de guerra com os olhos cheios de lágrimas. Gritava e gesticulava algo que não conseguíamos entender. Foi chegando, chegando, chegando, e tudo ficou claro:

- Filhos da puta! Filhos da puta! Mataram o Rick! Mataram o Rick!
         
          Mataram o Rick. Quem matou ninguém sabe até hoje. Talvez os gambé, talvez cobrança; mas o Rick estava morto. Não jogamos mais bola naquele dia.


          Ali, virei adulto.

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