Deixe de desdém mulher, não finja que esqueceu-se dos meus gostos musicais e nem pense que falhastes em minha memória aquelas várias epopéias que me contaste naquelas noites de Julho.
Agora tu passas em frente ao botequim e nem se atreve a torcer o pescoço para acenar-me com riso bobo de poetisa que sempre fostes; inconformo-me com tamanha ignorância, e desatino em cachaça junto aos meus “amigos”, que bebem, e cantam Ataulfo Alves desgostosos feito eu.
Aquele presente que me deu no dia em que completei anos, ainda guardo com muito apreço e estima, faz-me lembrar de ti sempre que o vejo sobre a estante de mogno empoeirada. Mas não arrisco à dizer que tais lembranças sejam benéficas, não sei de fato o que elas representam, mas o sabor é tão doce que amarga em meu paladar já inapurado.
Pensas que não percebi quando me olhou de canto de olho ontem no metrô rumo à consolação, seus dedos negros folheavam inútilmente “Tristes Trópicos” enquanto me fitava ressabiada, Lévi-Strauss nunca havia sido tão indiferente diante de teus olhos dispersos.
Sei que já deixou outros bebuns à torto direito, e que cada um morre um pouco dentro de ti à cada dia, mas hoje é domingo e está fazendo sol, talvez passe em sua casa para irmos ao cinema, ou talvez volte para a boemia que tão bem me quer e encontre você em outras rebentas, dessa forma, também morrerei mais um pouco e à matarei outro tanto.
Agora virei marxista, ando dando pulos, e fazendo revoluções verdadeiramente legítimas, em breve você me verá na televisão ou irá em meu velório. Depois disso, peço por favor que não vanglorie-se ao dizer que um dia fui teu. Guarde esse segredo, e me deixe em sua eterna amnésia.
(Bruno Ottenio)
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