Pseudo-crônica
Fiquei desempregado pra mais de um ano, comi o pão que o Tinhoso amassou, vendia o almoço pra comprar o jantar, não sobrava cruzeiros nem pra molhar o beiço no boteco do Messias. A situação ficou preta pro meu lado, estava aceitando qualquer tipo de cilada que me aparecesse, desde vigia noturno, até à atendente de fast-food. Vendo o meu aperto, minha mãe gentilmente cedia alguns trocados de vez em quando pra manter o meu vício e comprar alguns cigarros, mas não queria abusar da velha, foi aí que decidi tocar violão na praça da Sé pra não depender mais das migalhas da pobrezinha, não deu muito certo, as músicas do Roberto Carlos não faziam mais tanto sucesso quanto antigamente. Ia à entrevistas por volta de três vezes por semana, mas a resposta era sempre a mesma – Assim que tivermos um parecer retornamos pra ti – pois é, não retornavam, e quando o faziam, era apenas pra dizer que meu perfil não era compatível com a proposta da empresa. A urucubaca estava feita, e muito bem feita por sinal.
No início meus amigos me deram uma baita força, me emprestavam uma grana, faziam questão da minha companhia nos passeios de sábado à noite, vez ou outra até pagavam a minha cerveja, mas essas generosidades foram se tornando cada vez mais escassas, até que me vi sozinho.
O Charlão nunca mais passou em casa pro jogarmos sinuca e comermos amendoim com uísque, o Juninho sumiu no mapa e me abandonou nas quarta-feira que religiosamente assistíamos os jogos regados à cerveja do campeonato Brasileiro, nem se quer pro futebol nas quintas à noite eu era convidado, e a Juliana, minha namorada, ou melhor, ex-namorada, disse que estava confusa em relação aos sentimentos, queria conhecer novas pessoas, precisava de um tempo, me dispensou.
Passei incontáveis finais de semana na solidão dos meus aposentos, sendo praticamente obrigado à assistir aos insultos à minha inteligência que são os programas de TV que se vê hoje em dia. Estava na lama, sozinho, sem dinheiro, e assistindo “A Lagoa Azul – Parte II” num domingo à tarde, era o fim.
Mas eis que o Nosso Senhor Jesus Cristo, colocou a mão em meu caminho, e derramou suas graças sobre mim, consegui enfim um bendito emprego. Passei a trabalhar como auxiliar de almoxarifado no centro da cidade, não era lá essas coisas mas dava pra levantar um faz-me-rir.
Minha vida voltou ao normal, desde então não fiquei em casa um final de semana sequer,agora sempre sou convidado e minha presença é sempre garantida em toda e qualquer reunião entre amigos. Vou pra churrascos, festinhas, barzinhos, botecos, bodegas, biroscas, baladas, quermesses, entre outras centenas de lugares, sempre acompanhado é claro, dos meus verdadeiros amigos, Charlão, Juninho e companhia. De vez em quando sobra até uns trocados pra comer um Mc Donalds com a Jú...Ah é esqueci de dizer, eu e a Juliana voltamos à namorar, ano que vem tem casório na certa, sabe como é, quando bate o amor não tem jeito.
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